É pequenino, tem duas portas e quatro lugares, o motor é de dois cilindros e está situado atrás.
Está pintado de azul e, por dentro, os painéis das portas e os estofos são vermelhos com um debrum de creme.
É uma graça de carrinho, o 500. Desperta sorrisos, provoca olhares complacentes e curiosos, faz apontar dedos na sua direcção e voltares de pescoço, quer de peões como de motoristas.
Percorre a cidade com todo o à vontade e quase não há o perigo de ultrapassar os limites de velocidade, pois não passa dos 100 Km/hora.
Não tem uma série de coisas que os carros actuais têm: não tem fecho centralizado das portas, nem tem vidros eléctricos, não tem direcção assistida, não tem computador de bordo, nem GPS, não tem airbags, nem travões de disco, nem, sequer, indicador do nível de combustível: apenas acende uma luzinha vermelha no tablier quando entra na reserva de combustível. Também, os cintos de segurança não são de enrolar.
Agora, que o tempo começa a sorrir, nesta primavera ainda envergonhada, é altura de o trazer para a rua, fazer os curtos trajectos do dia a dia, abrir o tecto para deixar entrar mais um pouco deste sol hesitante, desfrutando, ao máximo, este carrinho, quase de brincar.
Mas este ar jovial e irreverente, e esta juventude que o carro demonstra, não dizem da sua idade: 41 anos, sem uma ruga, um cabelo branco, uma dor na coluna, nada... E tem outra vantagem: como não tem nada de equipamentos electrónicos, pega logo à primeira, mesmo que esteja parado bastante tempo.
Já o tenho há, talvez, uns doze anos. Desde há muito que sonhava ter um 500, desta cor e com os acabamentos que este possui. Não por qualquer fetiche ou mania, mas apenas porque foi num carro, como este, que aprendi a conduzir, tinha os meus 12 ou 13 anos. Era no tempo em que as estradas tinham poucos carros, as velocidades não eram estonteantes e os acidentes ainda não faziam estatística em lado nenhum.
Apesar de guardar as melhores recordações desses tempos, não quero ser saudosista e, por isso, não vou falar das férias de verão em que, com os meus primos Fernando e José, percorríamos as festas de aldeia à volta de Mangualde, íamos até à Canameira, perto da Muxagata e Meda, à caça das perdizes, por aqueles montes e vales perdidos na transição da Beira Alta interior com o Douro ou, simplesmente, programávamos passeios agradáveis, sempre com a companhia do 500.
É por isso que, cada vez que entro dentro do carrinho, entro dentro de um mundo de recordares que me fazem manter as lembranças vivas... Acho que o 500 é muito melhor do que aqueles comprimidos ou gotas que se tomam para reavivar a memória.
2 comentários:
Meu caro e bom Raul.
Vim visitar-te e gostei muito. De resto, conecendo-te como te conheço: homem e capacidades admiráveis, nem outra coisa era de esperar.
Um abraço do Fernando Chiotte.
Ciao bello!!
O cumprimento é para combinar com o "cinquecento", e com sotaque é claro!, porque um carro jeitoso como aquele, tem que ter tudo a condizer, inclusive as memórias.
É deliciosa a maneira como descreve as sensações, até consigo,cheirar, e sentir a emoção de entar nele
Quem sabe um dia vou até ai,ver de perto essa máquina!
Beatriz Morcego
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