terça-feira, 10 de outubro de 2023

 CHAPARRO

Abriu os ramos como se estivesse a espreguiçar-se, ao acordar de mais um dia deste Outono, ainda cheio de Verão...
Raul de Amaral-Marques



terça-feira, 3 de outubro de 2023

 VEM OUTUBRO!

E agora que chegámos
ao fim do tempo de Verão,
ao tempo quente, voltámos,
não mudámos de Estação!
O clima está bera
co’as Estações baralhadas,
o Inverno é Primavera,
muito seca, com trovoadas.
As barragens deixam ver
os fundos, cheios de História!
Estão a querer reviver
O que nos guardou a memória.
A água que vai faltando,
os campos sem cultivar,
as fontes que vão secando,
sempre um calor de rachar!
Mas não perco a esperança
com o Outubro que aí vem,
há-de trazer a temperança
dum Outono, como convém!
O tempo que arrefeça
e traga alguma humidade
pr’a que a gente não se esqueça
dum Outono de verdade!
Os dias ficam mais breves
e as noites mais compridas.
As árvores ficam mais leves
ficam sem folhas, despidas!
Que venha uma chuva boa
Das que molha e não alaga,
Lave as ruas, em Lisboa,
e minhas roseiras afaga.
A terra que fique molhada
para nela, se trabalhar
e a horta bem cavada
pr’a se poder semear!
Vem Outubro e não tardes
e traz contigo o Outono.
Vem, Outubro das verdades,
porque és, do Outono, o dono!
Raul de Amaral-Marques

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

 

TRANSPARÊNCIAS E SOMBRAS

 

Diz-se que a água, por ser água, é incolor, inodora e ganha as formas do recipiente que a contém!

A densidade é 1, ou seja, 1 litro de água pesa, exactamente, 1 quilograma.

Se é incolor vai ganhando as cores dos locais por onde passa, ou deixa ver, essas cores, através do olhar.

Quer dizer que a transparência da água é como a de um cristal!

Deixa ver tudo e não causa sombras ou opacidades!

E então, pergunto eu, porque é que a água, sendo incolor, transparente à luz e ao Sol, quando atravessada por ele, deixa uma sombra tão bem definida?

A questão é puramente semântica/filosófica, porque as leis da Física explicam, cabalmente, a razão de tal!

Mas, neste fim tarde, em que o Sol começa a ficar mais baixo no horizonte e a rasar-se mais prolongadamente na parede branca do tanque, de onde a água cai em fio grosso, a sombra desta, projectada na dita parede, pôs os meus pensares em divagações estéticas - porque o desenho da água que corre, as gotas e a própria sombra, têm uma dimensão estética -, divagações físicas - porque tudo isto mexe com estados físicos, com luz, com cores, com sombras, com refracções - e filosóficas - porque tem a ver com o saber das coisas, com as interrogações da vida e com reflexões -.

Curioso como um fio de água a saltar, atravessado por um Sol de Outono e a deixar a sua sombra numa parede branca, levou a tanta divagação!

 

Raul Amaral Marques








quinta-feira, 28 de setembro de 2023

 EU QUERO ANDAR DE BALÃO!!!

Eu quero andar de balão
bem lá por cima, no ar!
Quero, ver do alto o chão,
dar liberdade ao olhar!
Eu quero ir com o vento,
num suave deslizar,
guardar pra mim o momento
em que m’encontro a voar!
E saber que a Liberdade
como a dos pássaros, no ar,
só se alcança, de verdade,
se soubermos, bem, voar!
O voar e a liberdade,
andando de braço dado,
são mais que cumplicidade,
são como o amor, bem-amado!
É por isso que o amor
é como a liberdade:
ambos voam sem temor
e se olham com verdade!
Voar, ser livre e amar
São os três, bem precioso.
E porque amo, eu sei voar
E porque sou livre, eu voo!



Raul Amaral Marques




segunda-feira, 25 de setembro de 2023

 AS CORES DO OUTONO


Na hora do crepúsculo iniciado,
quando as formas se esbatem
e a penumbra se enche de magia,
quando as cores ondeiam os vermelhos,
os amarelos e o doirado,
quando o silêncio impera na Natureza
e a noite dá lugar ao que era dia,
quando, quantas vezes, a solidão
e a dor
se transformam em companhia
e a escuridão
se deixa adormecer em sonhos de amor...

As Cores do Outono são beijos de ousadia,
são benção e bálsamo de alegria,
são a paz que tanta falta fazia...

Raul Amaral Marques



quarta-feira, 20 de setembro de 2023

 MADRIGAL


E quando o arco
tangeu as searas,
o céu se ouviu
num som de azul
com tons de jasmim.

E o Sol surgiu,
com as águas claras
das nuvens rasgadas,
e as cores se abriram
em flores orvalhadas!


Raul Amaral Marques





terça-feira, 19 de setembro de 2023

 E SE EU FIZESSE UMA QUADRA?

E se fizesse uma quadra que não rimasse, que não obedecesse às regras e ao ritmo da poesia?

Se escrevesse sem nexo e me deixasse ir nas ondas deste mar imaginário, que percorre o meu espírito, no amanhecer deste dia?

Se cantasse loas à Lua, louvores ao Sol, à luz e salmos que nos enchessem de alegria?

Se, hoje, as notícias, contassem só coisas boas, bonitas, cheias de cor, musicais, como se fora uma sinfonia?

Se os jornais não enchessem as páginas de guerras, desastres, atropelos, fraudes, abusos e de xenofobia?

Se as rádios não falassem de horrores, tristezas, pobreza, greves, doenças ou qualquer tipo de pandemia?

Se as televisões não mostrassem imagens chocantes de feridos, mortos, inundações, sismos e cenas de tiros e pancadaria?

Que bom seria se vivêssemos em paz, em tolerância, em equidade de oportunidades, em plena harmonia!

Mas não! O querer viver assim, neste mundo cruel, frio, neste mundo cão, sem paz nem justiça, não passa de pura utopia.

Ao menos que as palavras, mesmo ditas em prosa, sejam lidas como se fossem os versos de uma poesia!


Raul de Amaral Marques


terça-feira, 12 de setembro de 2023

 LINHAS DE FUGA NO AMANHECER

Lembro da Geometria Descritiva, dos pontos de convergência, das linhas de fuga, da perspectiva geométrica quando se faz um desenho, ou se observa um quadro...

É que esta madrugada, ao desenrolar das 6h, na minha caminhada habitual, me deparei com esta imagem da pista ciclística/pedonal, das árvores alinhadas e arrumadas, das janelas iluminadas dos prédios da Duque d'Ávila, do céu azul forte, do clarear do Sol, ao fundo, e do desalinho planetário da Lua e da "Estrela da Alvorada"...

Como se fosse um desenho colorido, cheio de perspectiva geométrica, com as linhas de fuga bem acentuadas, a correrem para o ponto de fuga que, naquele quadro/desenho, não é mais do que o Astro Rei a acordar da noite silenciosa!

De repente, voltei aos meus tempos de Liceu, à Sala de Desenho, ao meu Professor Mestre Valente e às aulas de desenho e perspectiva, com um poliedro qualquer no meio da sala!


Raul Amaral Marques