segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

UM CAMPO VERDE E VASTO


"É um campo verde e vasto,
Sozinho sem saber,
De vagos gados pasto,
sem águas a correr.
Só campo, só sossego.
Só solidão calada.
Olho-o, e nada nego
E não afirmo nada.
Aqui em mim me exalço
No meu fiel torpor.
O bem é pouco e falso,
O mal é erro e dor.
Agir é não ter casa,
Pensar é nada ter.
Aqui nem luzes ou asa
Nem razão para a haver.
E um vago sono desce
Só por não ter razão,
E o mundo alheio esquece
À vista e ao coração.
Torpor que alastra e excede
O campo e o gado e os ver.
A alma nada pede
E o corpo nada quer.
Feliz sabor de nada, 
Inconsciência do mundo,
Aqui sem porto ou estrada,
Nem horizonte no fundo."

24-1-1933
É um campo verde e vasto

Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930 - 1935).




(DO AUTOR - UM CAMPO VERDE E VASTO, NA SERRA DE SÃO MAMEDE)


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domingo, 30 de dezembro de 2012

À ESPERA



Desde que a trombose o tornou um inválido para o trabalho começou a passar, por ali, as tardes. Fazia parte do seu tratamento: de manhã ia à fisioterapia, passava uma vez por semana no laboratório para controlar o sangue - tinha de estar no 2, se era mais alto tinha hemorragias, se era mais baixo o risco de ter nova trombose era muito elevado -, depois da sesta da tarde, quase invariavelmente, ia no seu passo trôpego e ajudado pela canadiana - perdera a força na perna e no braço do mesmo lado, a mão ficara quase uma garra, de fechada - até ao banco que o filho lhe pusera no alto do outeiro.

Dali avistava a sua lavoura, agora sob a orientação do rapaz mais velho, o único que quis ficar agarrado à terra, avistava a mancha dos sobreiros e o olival plantado em fileiras certas para facilitar a apanha mecanizada da azeitona - agora, com os preços que pedem, não há mão de obra que justifique a apanha manual -.

E, lá mais para o fundo, no perder da vista dos montes, no sem fim da terra, o poente. Quantas tardes não ficara ali a ver o pôr-do-sol?

Desde há uns dias que deixara de aparecer. Costumava, quando o tempo lho permitia, ir até lá, junto dele, dar dois dedos de conversa, falarem das perspectivas do próximo ano e a ficarem, ambos, a ver o pôr-do-sol...

Soube que já não vai voltar a sentar-se naquele banco... deixou acabar os comprimidos e não disse nada a ninguém.  Desta vez, a trombose não lhe perdoou.

Já não vão voltar a falar do novo ano que está para chegar!


(DO AUTOR - ALGURES NA SERRA DE SÃO MAMEDE)





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sábado, 29 de dezembro de 2012

A MANTA


Cada vez que subia a manta para tapar a cabeça, ficava com frio nos pés...

E, se queria ficar com os pés quentes, com a ponta dos dedos grandes, ia puxando para baixo a manta e a cabeça, o pescoço e os ombros ficavam à mostra, ao frio.

Não tinha maneira! A manta era curta, não esticava e, ora ficava com os pés frios e a cabeça quente, ora os pés estavam um forninho mas a cabeça e os ombros eram um bloco de gelo...

Até que encontrou a solução: resolveu flectir as pernas, encurvar o tronco, assumindo quase a posição fetal, e agora tem manta que tapa tudo e dorme sossegado e quentinho.

A necessidade aguça o engenho, não é?

(DO AUTOR - MANTA DE NUVENS NOS CÉUS DE PORTUGAL)




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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

LUAR



Doce, o acordar de um dia...

Cinza coado, do nevoeiro
Azul celeste, da amizade
Forte vermelho, de um abraço
Rosa intenso, de amor verdadeiro
De todas as cores, da sinceridade
Quente nos beijos e no amar
Escuro na noite, suave o luar...





(DO AUTOR - O LUAR DESTA NOITE)



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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

ALINHADOS



Serenos, aguardam
o chegar da maré.
Assim, alinhados, 
os barcos repousam...

No tempo qu'esperam
escutam,  ao longe,
a voz das sereias
que tarde delongam...

Seus cantos doridos
mistérios calados,
vividos, sofridos,
pr'a sempre adiados.

Serenos e quedos,
estão alinhados,
ouvindo segredos, 
inimaginados...



(DO AUTOR - ALINHADOS ESPERAM, O CHEGAR DA MARÉ)




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"DIA DE NATAL"


DIA DE NATAL 

"Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor 
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra - louvado seja o Senhor! -  o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama!

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino-Jesus.

Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caiam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas."

António Gedeão - Poema "Dia de Natal"


(DO AUTOR)



















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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

NATAL



Deveria ser todos os dias: Natal!

Mas como só se festeja neste dia e as pessoas só pensam nele, a maioria, nesta altura, é tempo de lembrar que Natal é também sinónimo de solidariedade.

É a ocasião em que se reúne a família, se desejam felicidades aos amigos e conhecidos e deverá ser, também, tempo de reflexão, tempo de pensar nos outros, nos mais sozinhos, nos idosos, nos abandonados, nos desprotegidos e em todos os que sofrem, de qualquer maneira.

Por isso, desejos de um Santo e Feliz Natal! E que se prolongue no dia a dia!


(DO AUTOR - PRESÉPIO DE ESTREMOZ)


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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

POEMA DO MENINO JESUS



"Num meio-dia de fim de primavera
eu tive um sonho como uma fotografia.
Eu vi Jesus Cristo voltar à terra.
Veio pela encosta de um monte.
E era a eterna criança, o Deus que faltava.
Tornando-se outra vez menino,
a correr e a rolar pela relva
e a arrancar flores para deitar fora.
E a rir de modo a ouvir-se longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir de segunda pessoa da Trindade.
Um dia, que Deus estava dormindo
e que o Espírito Santo andava a voar
ele foi até à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro, ele fez com que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo, ele criou-se eternamente humano e menino.
E com o terceiro ele criou um Cristo
e o deixou pregado numa cruz que serve de modelo às outras.
Depois ele fugiu para o sol
e desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje ele vive comigo na minha aldeia
e mora na minha casinha em meio ao outeiro.
É uma criança bonita, de riso natural.
Atira pedra aos burros.
Rouba a fruta dos pomares.
E foge a chorar e a gritar com os cães.
Nem sequer o deixaram ter pai e mãe
como as outras crianças.
Seu pai eram duas pessoas: um velho carpinteiro
e uma pomba estúpida, a única pomba feia do mundo.
E sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher, era uma mala
em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que justamente ele pregasse o amor e a justiça.
Ele é apenas humano,
limpa o nariz com o braço direito,
chapinha as poças d'água;
colhe as flores, gosta delas,
esquece-as.
E porque sabe que elas não gostam
e que toda a gente acha graça,
Ele corre atrás das raparigas
que carregam as bilhas na cabeça e levanta-lhes as saias.
A mim, ele ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as belezas que há nas flores. 
E mostra-me como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem nas mãos e olha devagar para elas.
Ensinou-me a gostar dos réis e dos que não são réis.
E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
sempre a escarrar no chão e a dizer indecências.
E que a Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meias.
E o Espírito Santo coça-se com o bico;
empoleira nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como nas Igrejas.
Diz-me que Deus não percebe nada das coisas
que criou - do que duvido.

"Ele diz por exemplo que os seres cantam a sua glória.
Mas os seres não cantam nada
se cantassem, seriam cantores.
Eles apenas existem e por isso são seres..."

Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
e é por isso que eu sei com toda a certeza que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E depois, cansado de dizer mal de Deus
ele adormece nos meus braços.
Eu o levo ao colo para minha casa.
Damo-nos tão bem na companhia de tudo
que nunca pensamos um no outro.
Mas vivemos juntos os dois
com acordo íntimo,
com a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer, nós brincamos nas cinco pedrinhas do degrau da porta da casa.
Graves, como convém a um deus e a um poeta.
É como se cada pedra fosse um universo
e fosse por isso um grande perigo deixá-la cair no chão.
Depois ele adormece.
Eu o deito na minha cama despindo-o lentamente
seguindo um ritual muito limpo, humano e materno até ele ficar nu.
Ele dorme dentro da minha alma.
Às vezes ele acorda de noite e brinca com os meus sonhos.
Vira uns de perna para o ar.
Põe uns encima dos outros.
E bate palmas sozinho sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo.
E leva-me para dentro da tua casa.
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde, para eu tornar a adormecer.
E dá-me os sonhos teus para eu brincar... "

Uma das versões do "Poema do Menino Jesus" de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa).


(DO AUTOR - PARTE DE UM PRESÉPIO DE ESTREMOZ ASSINADO PELAS IRMÃS FLORES)



























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domingo, 23 de dezembro de 2012

AS CORES DO NATAL


Habitualmente imagina-se o Natal cheio de cores, com o branco da neve, o vermelho do fato do Pai Natal, o verde da árvore, o prateado da estrela dos Reis Magos e o amarelo dourado das palhas do presépio... pelo menos estas serão as principais e as que mais o representam.

A verdade é que se Cristo nasceu para os lados da Galileia, em Nazareth ou Belém, há dúvidas que tenha havido muita neve por lá, que o Pai Natal já existisse, - afinal a Coca-Cola, a "mãe" do Pai Natal, ainda não estava comercializada -, nem os pinheiros deveriam abundar por aquela zona... ficando, por exclusão, o brilho prateado das estrelas, como a que guiou os Reis Magos e o amarelo dourado das palhas onde colocaram o Menino depois de nascer... Aliás, as cores mais apropriadas à realeza de Cristo, o Rei dos Judeus...

Como em cada lugar do mundo se festeja o Natal, da Lapónia à Galileia, da América à Namíbia, do Alentejo a Timor, cada povo foi adaptando as suas cores natalinas, às cores da natureza que rodeia cada lugar.

É por isso que o Natal, da Serra de São Mamede, foi buscar os vermelhos, os verdes, os brancos e até os castanhos e os amarelos, às trepadeiras, aos medronheiros, aos castanheiros, aos pinheiros e às nuvens lá do alto que, hoje, são da cor da neve...


(DO AUTOR - AS CORES DA TREPADEIRA NO NATAL)


(DO AUTOR - O MEDRONHEIRO NO NATAL)




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sábado, 22 de dezembro de 2012

AFINAL O MUNDO NÃO ACABOU


Na verdade o mundo não acabou... Melhor, acabou para alguns... É tudo uma questão de se consultarem as listas dos obituários, para quantificar o número das pessoas que garantiram a veracidade da profecia e, porque não a quiseram deixar ficar mal, morreram neste dia 21/12/2012.

Falou-se em conjugação dos astros, em explosões solares, em choques titãs entre estrelas, em desalinhamento dos eixos magnéticos, em mil e uma coisas capazes de originarem o fim, como se o fim do mundo também tivesse consultado o calendário dos Maias e se quisesse cumprir nesse rigor da data marcada.

E, agora que já passou a meia noite, que na Austrália e Nova Zelândia já é quase meio-dia do "day after", a vida, por aqui, continua mansa com chuva no Norte, nevoeiro no Centro e, no Algarve, com pontas de sol, ou de lua, conforme a hora... e a TAP que, afinal, não foi vendida ao polaco-colombiano-brasileiro Efromovich.

Soube-se pela televisão que, pelo menos em França, um Município se preparou para contrariar esse desígnio astronómico e tivesse criado abrigos e outros refúgios para escapar e resistir à fatalidade.

Outros, anteciparam o cenário de morte,  imaginaram as mais diversas hipóteses, fizeram até  "croquis" e descrições de como tudo ia terminar, tudo calculado e explicado de uma forma astronomicamente rigorosa.

Até houve quem, de forma mais prosaica, tivesse, mesmo, fotografado a lua a escorregar do céu, onde se encontrava, a vir por aí abaixo, até furar esta Terra-planeta deixando, atrás de si, um rasto luminoso como se fosse uma cauda de cometa...

(DO AUTOR - EM FLAGRANTE)
...ou não seria, esta, a fotografia de Os Azeitonas, apanhados em flagrante, no momento em que roubavam a lua?

"...
E que eu morra aqui
Se um dia eu não te levo à lua
Nem que eu roube a lua
Só para ti
..."

E, como não levaram a moça à lua, pura e simplesmente, roubaram-na! Pelos vistos, não foram presos nem houve nenhum fim do mundo, por isso!  






sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

TENHO UMA GRANDE CONSTIPAÇÃO


"Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina."
14-3-1931


Poesias de Álvaro de Campos - Tenho uma grande constipação. Fernando Pessoa, Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 48


(DO AUTOR - CHINA, BEIJING, NA CIDADE PROIBIDA)














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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

FIM DA TARDE



E foi, naquele fim de tarde de outono, com o sol já escondido por detrás do morro baixo, mas a libertar ainda uma luminosidade suave e morna, que descobriu, por entre os juncos verdes, junto à margem, aquela ave, solitária, que ali estava de passagem...



(DO AUTOR - O FIM DA TARDE  






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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

DELICADEZA


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(DO AUTOR - AS DELICADAS PÉTALAS DE UMA ROSA)

"Bailarina fui
Mas nunca dancei
Em frente das grades
Só três passos dei

Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dancei no avesso
Do tempo bailado

Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei

Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado

Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei

Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbau disse
Também eu direi

«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»"

Sophia de Mello Breyner Andresen - Por Delicadeza, in O Nome Das Coisas














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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O MUSGO


Pegou nas três caixas de tamanhos diferentes e dispô-las no recanto da parede colocando a maior atrás e as outras duas, mais pequenas, adiante, como se fossem degraus. Depois, espalhou o velho saco de serapilheira, que previamente tinha cortado dos lados, por cima das caixas, de modo a sugerir a encosta de um monte. Aconchegou com as mãos os socalcos, levantou o tecido num ou noutro local e, no meio daquele cenário ainda em bruto, colocou, no local mais em evidência, a cabana a servir de presépio.
Junto a si tinha um pequeno balde com areia, dois sacos de supermercado cheios de musgo bem verde, que tinha ido colher de manhã no muro velho da quinta, as figuras em barro pintado das pessoas e animais, as casinhas, o espelho redondo, a farinha branca, meia dúzia de ramos de cedro, o sistema de luz e, bem dourada, a estrela cadente ou cometa, que irá indicar, aos réis Magos, o caminho de  Belém.
Não ia ser tarefa rápida, já sabia como era, com tantas figuras, tantos pastores, campesinos, ovelhas, o burro e a vaca (sim!, no presépio dele o burro e a vaca estariam presentes), os réis Magos com os seus camelos e as três figuras principais do presépio: o São José com o bordão florido, a Nossa Senhora de rosto sereno, contemplativo e o Menino, deitado num berço de palhas, sorridente, de perna esquerda flectida...
Todos os anos montava o Presépio de maneira diferente mas havia sempre, em comum, a areia a desenhar as estradas e os carreiros, o espelho a servir de lago com os patinhos a nadarem na sua superfície, os ramos de cedros a fazerem de árvores, a farinha a cobrir os cumes dos montes e os telhados das casas, como se tivesse havido um nevão, a luz branca, como um foco, para iluminar o Menino e, presa por um fio de nylon, esticado e fixado nos recantos da parede com fita-cola da invisível, a estrela a apontar o local do nascimento do Jesus Menino.

Mas, a parte de que mais gostava era logo a primeira, a da colocação do musgo que ia atapetando toda aquela serapilheira disposta em socalcos irregulares. Era o musgo que dava a forma ao morro descendente, conferindo textura e vida àquela estrutura, a cor verde ia variando do mais claro ao mais escuro e, numa ou noutra porção daquele musgo húmido, uma flor tímida ou um cogumelo selvagem, mantinham-se, ainda, cheios de vida. De tempos a tempos borrifava o musgo para que não secasse até à chegada do dia de Natal...
Neste seu Natal não havia lugar para pinheiros, luzinhas a piscar ao ritmo de canções de Natal, nem bolas vermelhas ou douradas, nem renas, nem trenós, nem o HOW HOW HOW cavernoso e assustador do velho Pai Natal da Lapónia...
Bastava-lhe este seu presépio, feito com carinho, amor e muito musgo, com as figurinhas tradicionais, muitas delas trazidas da casa dos avós, para lhe encher a casa do genuíno espírito do NATAL!

 
(DO AUTOR - O MUSGO NUM MURO VELHO DA QUINTA DA PROSA)


segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

DA JANELA


Da janela,
de onde costumo ver o pôr do sol,
hoje, não o vi!
Mas vi o cinzento,
suave e esbatido,
do nevoeiro;

Ontem, da janela, vi a chuva feita,
parecia,
de grossos pingos
como se fossem os do meu chuveiro;

E, no outro dia, da mesma janela,
vi o vento a sacudir,
com força destemperada,
os ramos da árvore,
ali defronte,
já quase desfolhada...

Como se,
de cada vez que olho através dela,
em cada dia,
a minha janela,
mudasse de fotografia...

(DO AUTOR - DA JANELA - NA QUINTA DA PROSA)





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domingo, 16 de dezembro de 2012

CHUVA



"Chove uma grossa chuva inesperada,
Que a tarde não pediu mas agradece.
Chove na rua, já de si molhada
Duma vida que é chuva e não parece.

Chove, grossa e constante,
Uma paz que há-de ser
Uma gota invisível e distante
Na janela, a escorrer..."

Miguel Torga


A verdade é que chove... uma chuva benéfica, rica, farta, esperada, uma chuva agradecida e imensamente desejada...

Uma chuva que molha, que enche rios, que faz correr a água nas fontes, em abundância, água que traz riqueza e substância...


  


(DO AUTOR - ESTRADA DA SERRA - PORTALEGRE)



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sábado, 15 de dezembro de 2012

LAREIRA


É só o que apetece hoje: LAREIRA!

Lá fora o vento uiva, a chuva fustiga, o frio incomoda e só dentro de casa, enrolado na velha manta de tecido escocês e recostado no sofá amarelo, bem junto ao lume forte e crepitante da lareira, é que apetece estar. 

A música vai fluindo do velho gira-discos de vinil libertando a sonoridade dos acordes de Cole Porter que vão enchendo a sala de leitura de agradáveis e quentes melodias. O livro, esse, faz de companhia, assim como o Porto Vintage servido no cálice do Siza Vieira...


(DO AUTOR - A LAREIRA ACESA NESTE DIA DE CHUVA)


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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

PIETÀ


"Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado,
De pedra e de tristeza, no teu canto,
Comigo ao colo, morto e nu, gelado,
Embrulhado nas dobras do teu manto.

Sobre o golpe sem fundo do meu lado
Ia caindo o rio do teu pranto;
E o meu corpo pasmava, amortalhado,
De um rio amargo que adoçava tanto.

Depois, a noite de uma outra vida
Veio descendo lenta, apetecida
Pela terra-polar de que me fiz;

Mas o teu pranto, pela noite além,
Seiva do mundo, ia caindo, Mãe,
Na sepultura fria da raiz.

Miguel Torga - Pietà, in Antologia Poética.

(DO AUTOR - PIETÁ DE GRANITO BEIRÃO - FEIRA DE OLIVEIRA DO HOSPITAL)




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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

LÍRICA



"Lírica, a tarde cai
Com secura nas folhas;
Lírica, a minha vista vai
A olhar o que tu olhas...

Oliveiras de sonhos
A ver nascer a lua...
Liricamente ponho
A minha mão na tua.

Miguel Torga - Lírica, in Antologia Poética.

(DO AUTOR - FOLHA SECA)





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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O PERÚ


Tem sido engordado com bolota, milho e quase tudo o que o campo dá. Anda por ali, meio à solta, naquele terreno quase selvagem, apenas limitado pela cerca que impede a vinda da raposa que vive nas cercanias! Nunca comeu ração!

Bem constituído, gordo mesmo, com a penagem  luzidia de saudável, estufa as penas da cauda e do corpo, avermelhando e inchando a barbela, quando as peruas do seu harém estão por perto, exibindo-se tolamente diante delas como um rei, um paxá ou um califa!..

Mas a sua hora está quase chegando e este rei, daqui por uns dias, já faltam poucos, irá ser destronado, afastado das suas concubinas, para o cumprimento de um destino final e, ao mesmo tempo, triunfal: bem assado, bem trinchado, de pele estaladiça, recheado dos seus próprios miúdos e colocado numa travessa no meio da mesa de Natal a receber os brindes e os aplausos gulosos dos convivas sentados à sua volta!


(DO AUTOR - O PERÚ DE NATAL)
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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

FOLHA VERMELHA


Foi mudando a cor do vestido que usava,
Agora vermelha, da cor de desejo;
De noite dormia, de dia sonhava,
Na árvore de outono, deste Alentejo.

Esperando, com tempo, o bailado do vento
E dando um adeus, em despedida final,
Subindo no ar, num derradeiro alento,
Caindo no chão, vermelha, mortal.

Aparentemente morta, de vermelho vivo,
A estrada de cor parece de vida, 
Como sangue que corre, com força, activo
Neste outono triste, mas de cor garrida.



(DO AUTOR - FOLHA VERMELHA DE OUTONO)






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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ÍCARO


A sua ambição era voar, planar no alto, olhar os outros por cima, dominá-los, descobrir-lhe as carecas, ver sem ser visto, espiar...

E, para voar como um pássaro, tinha de arranjar um par de asas. Imaginou como deveriam ser feitas, fez uma série de esboços, fabricou modelos à escala, escolheu aquele que parecia ser o mais eficiente e tratou de o fabricar. Arranjou uma armação leve, em madeira de balsa, muitas penas de pato e cera, para fixar as penas àquele esqueleto de madeira. De uma pele curtida de carneira fez as tiras de couro necessárias para fixar aquela estrutura ao tronco e aos braços que iriam imprimir o bater das asas...

A ambição de Ícaro, ao querer voar lá no alto, tão próximo do Sol, fez com que este, com o seu calor, derretesse a cera que fixava as penas à estrutura de madeira... E caro (Ícaro) pagou por isso!

Foi de Ícaro de quem se lembrou quando entrou no avião de regresso a casa. Também iria voar alto, olhar o mundo de cima, mas com a única certeza de que, àquela hora do fim do dia, com o Sol a desaparecer no horizonte, o calor da bola de fogo que iluminara o dia, nunca iria derreter aquelas asas bem fixas e aparafusadas ao corpo da nave que o transportava... E, talvez por isso, chegou são e salvo!

(DO AUTOR - ÍCARO EM BRONZE - BIBLIOTECA MUNICIPAL ERNESTO DO CANTO - PONTA DELGADA - SÃO MIGUEL - AÇORES)


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domingo, 9 de dezembro de 2012

HYDE PARK

É obrigatória uma ida a este parque.


Indispensável não deixar de ver a Serpentaine, os imensos relvados, os cavaleiros no seu trote descontraído, tomar um chá junto ao lago, passar junto da estátua do Peter Pan, cumprimentar a Fada Sininho, apreciar e fotografar os esquilos do parque e, finalmente, sair junto ao Old Swan, para degustar uma verdadeira "pie" acompanhada de uma "draft beer".


São estas, algumas das boas recordações que Londres deixa aos seus incondicionais fãs!

See you next time!





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sábado, 8 de dezembro de 2012

GINGERBREAD



É obrigatório comprá-lo e comê-lo nas vindas a Londres, nesta altura do Natal.

O "homenzinho", de sabor a gengibre, está por todas as montras de padarias e lojas de guloseimas. É feito de uma massa bem texturada, não muito doce e com o acre e adstringência, quanto baste, do gengibre. 

Pode durar muito tempo, semanas, mas é preferível comê-lo, ou melhor, saboreá-lo, enquanto a consistência, ao mastigar, possui uma certa elasticidade gomosa e o sabor do gengibre está na sua plenitude.

É por isso que o gingerbread nunca dura até ao Natal! Compram-se dois ou três, mandam-se embrulhar mas, muitas vezes, antes da chegada ao hotel, o primeiro fica comido. É que a vontade e o desejo de os saborear não resistem à temperança do recomendável... depois, os outros, seguem o mesmo caminho!

Pecados da gula!

(DO GOOGLE - NEM TIVERAM TEMPO DE SEREM FOTOGRAFADOS, FORAM COMIDOS!)



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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

BIG BEN


Já passou dos 150 anos de idade e ali continua, a marcar uma presença única, a indicar o tempo e a tocar as horas com o som inconfundível do seu sino grande.

Uma visita a Londres, um fim-de-semana, um passeio servem sempre de motivo para se passar ao seu lado e escutá-lo.

Para quem não tem pressa, saber das horas, é o que menos interessa, quantas são, se é tarde ou cedo, mas a hora do meio-dia é sempre especial nesta cidade, porque aquele ícone, ao assinalar a chegada da parte da tarde, enche-a de uma sonoridade tal (ou será sinoridade?), austera, grave, pausada, solene, majestosa a contrastar com o frenesim desta época Natalícia, com as ruas cheias de gente, as lojas a abarrotarem de pessoas e de tentações e os sinos e sininhos das inúmeras árvores de Natal a badalarem toques agudos, constantes, irreverentes e plebeus, nas mais variadas versões do "Jingle bell", a convidarem ao consumo nesta época de austeridade.


(DO AUTOR - O BIG BEN)






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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

PIETRINA



Pietrina Checcacci é daquelas pessoas que souberam, pela sua arte, pela sua técnica, pelo seu talento, impor-se no mundo das artes plásticas: pintura, aguarelas, serigrafia, escultura, jóias... 

A sua casa é uma verdadeira Galeria de Arte, uma mostra maravilhosa de telas, de desenhos, de bibelots, de jóias, de esculturas...

O reconhecimento da sua arte tem-se traduzido em inúmeros prémios mas hoje (ontem) recebeu o galardão de Cidadã Honorária do Rio de Janeiro, como reconhecimento do povo carioca às pessoas especiais que, apesar de não ser de origem brasileira, honram a cidade que escolheu para viver, desde 1954.

Mas a Pietrina tem muito mais qualidades: é uma excelente amiga, uma anfitriã excepcional, uma literata que produz textos lindos e é, "the last but not the least", membro de um dos mais famosos, prestigiados e restritos clubes literários do Rio de Janeiro - O CLUBE DA LETRA - .

Tenho a honra de pertencer a esta irmandade das letras e de ser amigo de Pietrina.

Hoje, o meu Blog é de homenagem a ela, a essa mulher de encantos!

Obrigado Pietrina! 

(DO AUTOR - O MESMO COM PIETRINA EM SUA CASA-GALERIA DE ARTE NUM DIA DE REUNIÃO DO CLUBE DA LETRA)

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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

SOLIDÃO


"Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada 'speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada."

Ricardo Reis, in "Odes" - Estás Só.





(DO AUTOR - SOLITÁRIO - VILA FRANCA DO CAMPO - ILHA DE SÃO MIGUEL - AÇORES)



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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

AMIZADE

A amizade não é palavra vã!

A amizade surge, acontece, conquista-se mas, depois que se estabelece, cumpre-se, conserva-se, alimenta-se, bebe-se, fala-se, olha-se, fuma-se, acompanha-se, confia-se, entrega-se, oferece-se... É para toda a vida!

A amizade é um bem inestimável, um ritual que se cumpre, um compromisso que se estabelece, um dar sem estar à espera de receber, um herdar sem se estar obrigado a dar algo em troca, porque se dá ao receber e, também, porque se recebe quando se dá...

A amizade é mais forte que o amor, é leal, não mente, dura a vida inteira e persiste na saudade...

A amizade, acima de tudo, É!

(DO AUTOR - RELÓGIO DE BOLSO "GRANDE COMPLICAÇÃO" DA SUA COLECÇÃO)
"Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol."


António Ramos Rosa - Para Um Amigo Tenho Sempre Um Relógio, in Viagem Através de uma Nebulosa (1960).


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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

METADE



"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo seja p'ra sempre amada,
Mesmo que distante,
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos,
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e paz que eu mereço,
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada,
Porque metade de mim é o que eu penso
E a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne, ao menos, suportável.

Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância,
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
P'ra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais,
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
Mesmo que ela não saiba,
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade p'ra fazê-la florescer,
Porque metade de mim é plateia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também."


Oswaldo Montenegro - METADE



(DO AUTOR - METADE - NA ALTURA DA CERIMÓNIA INAUGURAL DE GUIMARÃES, CAPITAL DA CULTURA)







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domingo, 2 de dezembro de 2012

FLOR AMARELA


Singela, a brilhar no meio de um relvado seco, a flor amarela surgiu assim, quase inesperada, a marcar  uma presença de vida, de afirmação, de perseverança, de determinação, a contrariar-se ao espectáculo de tristeza à sua volta.

Esperança, renovação, vivacidade, audácia e sorte - sim, porque a sorte protege sempre os audazes -, foi o que esta pequena flor amarela inspirou.

Agora, que o inverno se aproxima, que a desolação se espalha, que o viver vai ser uma complicação,  que as dificuldades vão, realmente, surgir que seja a flor amarela a afirmação e o símbolo de que a vida não acaba por isso e que a esperança - mesmo amarela, de cor do sorriso de muitos - é, mesmo, a última a morrer! 


(FLOR AMARELA - NO MEIO DA SERRA DE SÃO MAMEDE)




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sábado, 1 de dezembro de 2012

NAQUELA NUVEM




(DO AUTOR - NESTA NUVEM SEGUE O MEU PENSAMENTO)





"Naquela nuvem, naquela,
mando-te meu pensamento:
que Deus se ocupe do vento.

Os sonhos foram sonhados,
e o padecimento aceito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Imensos jardins de insónia,
de um olhar de despedida
deram flor por toda a vida.

Ai de mim que sobrevivo
sem o coração no peito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Longe, longe, atrás do oceano
que nos meus olhos se aleita,
entre pálpebras de areia...

Longe, longe... Deus te guarde
sobre o seu lado direito,
como eu te guardava do outro,
noite e dia, Amor-Perfeito."


Cecília Meireles - Poema do Amor-Perfeito.







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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

E QUANDO O CÉU...


E, quando o céu se pinta daquela cor bem vermelha, lembrando o inferno, quando as nuvens se enchem de azuis escuros e de um negro bem atro, adquirindo aquelas formas bizarras provocadas pelo vento, quando o frio, que desce da serra, enregela a terra, quando a chuva gelada arrefece os ossos e acaba por despedir, definitivamente, as folhas das árvores...

... É o outono a querer entrar pelo inverno.  



(DO AUTOR - UM CÉU DE TEMPORAL, NESTE OUTONO DE INVERNO)