terça-feira, 30 de abril de 2013

EU ENCHERIA O TEU MUNDO DE FLORES


" Eu encheria o teu mundo de flores
  Eu navegaria contigo por todos os mares
  E conheceria contigo todos os sabores
  Só para colocar em teus lindos olhos
  O brilho de todas as estrelas do Infinito
  Se eu pudesse ter esse teu sorriso sempre por perto
  Se eu pudesse ter você
  Sempre comigo..."

Augusto Branco - Eu Encheria O Teu Mundo De Flores

(DO AUTOR - FLOR DA PRIMAVERA A ENCHER O MUNDO)










segunda-feira, 29 de abril de 2013

ABSTRACTO




Desta vez, o meu céu, aquele que se desenha e pinta cada dia de forma diferente na tela da minha janela, resolveu mudar a forma de se pintar: alterou o estilo, abandonou-se daquele classicismo das nuvens em desenhos imaginados, do sol a esconder-se por detrás delas, da ave no vôo em contra-luz e, mesmo, dos ramos das árvores mais próximas a fazerem de sombras chinesas nas margens da fotografia...

Desta vez, o meu céu, deixou de ser concreto e... tornou-se abstracto!


(DO AUTOR - O CÉU A TORNAR-SE ABSTRACTO)



domingo, 28 de abril de 2013

CAFÉ DAS CINCO




"Minha mesa no Café,
Quero-lhe tanto... A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e fresca é!

Um sifão verde no meio
E, a seu lado, a fosforeira
Diante do meu copo cheio
Duma bebida ligeira.

(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais.)

Sobre ela posso escrever
Os meus versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber...

Sobre ela descanso os braço
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.

Ou acendendo cigarros,
- pois há um ano que fumo -
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.

(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beijá-la, claramente.)

Um novo freguês que entra
É novo actor no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.

É o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha ideia persiste
E nunca mais se desloca.

Cinge tais dificuldades
A minha recordação,
E destes vislumbres são
As minhas maiores saudades...

(Que história de Oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou...)


Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
- Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.

Passar o tempo é meu fito,
Ideal que só me resta:
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.

- Cafés da minha preguiça,
Sois hoje - que galardão! -
Todo o meu campo de acção
E toda a minha cobiça."

Mário de Sá Carneiro - Cinco Horas.


(FOTOGRAFIA DO AUTOR - QUADRO DE RUA - EM SALVADOR DA BAHIA)






sábado, 27 de abril de 2013

Ó LUA QUE VAIS TÃO ALTA


Ó Lua que vais tão alta...


É assim que começam algumas das quadras populares sobre a Lua, cheia ou vazia, crescente ou minguante...

E ontem foi dia de Lua Cheia...

Ó lua que vais tão alta,
redonda que nem um tamanco.
Ó Maria traz cá a escada,
que eu não chego lá c'o banco.

Ó lua que vais tão alto
Alumia cá pr'a baixo
Tenho meu amor à espera
Às escuras não o acho.

Ó lua que vais tão alto
Por essas serras além
Leva-me ao céu onde tenho
A alma da minha mãe.

Ó lua que vais tão alta
esbelta como um chaparro
Esses teus olhos, menina,
são como as rodas dum carro.

Ó Lua que alumias
Lá no mar, os pescadores
Alumia-me, também,
Para ver os meus amores.

A mulher quando se junta,
A falar da vida alheia,
Começa na Lua Nova
Acaba na Lua Cheia.

Ó lua que vais tão alta,
carregada de manchinhas,
és a figura homoteta
da careca do Bolinhas.
(esta quadra cantávamos no Liceu de Camões ao nosso professor de Matemática que tinha uma careca como se fosse uma Lua cheia).

Do cancioneiro açoriano:

Nos altos céus vai a Lua
Brilhando em seu esplendor,
Passam-se as horas da noite
E tu não vens, meu amor! (Ilha das Flores)

Oh! Que lindo luar faz
Para irmos às maçãs,
Na rua da Formosura,
Onde estão as três irmãs. (Ilha de São Jorge)

Oh! Que lua tão clara!
Vem cá meu amor, vem ver:
Não há Sol que chegue à Lua,
Nem ao nosso bem-querer. (Ilha de St.ª Maria)

Olha a Lua enfarinhada,
Lua cheia redondinha.
É como a nossa moleira,
Toda suja de farinha. (Ilha de São Miguel)

Vai ver se a Lua saiu,
Ou se está p'ra sair,
Que o meu bem foi-se embora
E eu também me quero ir. (Ilha de São Miguel)

Ó Lua da madrugada
Não venhas cá, ao serão;
Quem vai ver o seu amor,
Quer escuro, Lua não. (Ilha de São Jorge)

E do autor:

O Luar bem devagar
entrou no quarto... acordou-me,
Disse-me do teu olhar,
Do teu sorriso, falou-me.

O brilho do teu olhar
corou de admiração
Ficou vermelho, o luar,
da cor do meu coração.

A luz do Luar que diria,
se falasse à minha dor:
Esta palavra, Maria,
O nome do meu amor!

O luar brando, brandinho,
entrou no quarto e falou-me:
Pôs-se a dizer-me baixinho
A doçura do teu nome.


(DO AUTOR - A LUA NA SUA PLENITUDE)















sexta-feira, 26 de abril de 2013

JACUZZI MATINAL




Passavam ali uma boa parte da manhã... em mergulhos suaves, lavares de penas cuidados, arrulhos sociais e de intimidade, descontraídos, relaxados...

Sempre que um partia, outro chegava. Também não havia lugar para mais... e a lotação esgotava-se num instante...

Do lado de dentro da janela, sentado à mesa do pequeno almoço, entre uma dentada no scone barrado com doce de amora, um gole no capuccino  a transbordar de espuma polvilhada de chocolate e um olho nas notícias do jornal,  ele olhava através do vidro grosso apreciando aquele original e esvoaçante jacuzzi matinal...


(DO AUTOR - HORA DO BANHO)



















quinta-feira, 25 de abril de 2013

IDEIA


"Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua..."

Mário Quintana 

(DO AUTOR - TIVE UMA AGRADÁVEL IDEIA! - JARDIM DA CATEDRAL EM GUILFORD)













quarta-feira, 24 de abril de 2013

ÁGUA CORRENTE



Nasce do fundo da mina, fria, transparente, coada por filtros de granito, passeada em leitos de areia, seguindo por caminhos escuros, tortuosos, até chegar àquela arca de água, cheia de júbilo, forte, abundante...

Depois, prometedora, cai copiosa e límpida da conduta enchendo o tanque da rega...

Água, cristal de rocha, agora temporariamente sossegada, à espera de partir, de novo, para encher o rego aberto pela enxada e correr suja da fértil terra com que se mistura...

E amanhã, quando a água passar a correr com menos força, quando o tanque só estiver meio cheio dessa água transformada em caldo de limos, de rãs e de girinos, a transbordar de vidas, a horta estará cheia dos frutos que a terra deu, terra que a água molhou e que o homem cuidou... 





(DO AUTOR - A ÁGUA DA MINA)



terça-feira, 23 de abril de 2013

O JARRO E A POESIA



"O poeta quer escrever sobre um pássaro:
e o pássaro foge-lhe do verso.

O poeta quer escrever sobre a maçã:
e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.

O poeta quer escrever sobre uma flor:
e a flor murcha no jarro da estrofe.

Então, o poeta faz uma gaiola de palavras
para o pássaro não fugir.

Então, o poeta chama pela serpente
para que ela convença Eva a morder a maçã.

Então o poeta põe água na estrofe
para que a flor não murche.

Mas o pássaro não canta
quando o fecham na gaiola.

A serpente não sai da terra
porque Eva tem medo de serpentes.

E a água que devia manter viva a flor
escorre por entre os versos.

E quando o poeta pousou a caneta,
o pássaro começou a voar,
Eva correu por entre as macieiras
e todas as flores nasceram da terra.

O poeta voltou a pegar na caneta,
escreveu o que tinha visto, 
e o poema ficou feito."

Nuno Júdice, A Matéria do Poema - 2008



(DO AUTOR - JARRO SILVESTRE, DA ESPÉCIE ARUM  maculatum, A NASCER DA TERRA, NA QUINTA DA PROSA)


segunda-feira, 22 de abril de 2013

DIA MUNDIAL DA TERRA


Hoje, 22 de Abril, comemora-se o DIA MUNDIAL DA TERRA.

Um dia contra a poluição e a favor da preservação da Terra e do Ambiente

Um dia que, afinal, deveria ser igual a todos os outros...


(DO AUTOR - AS FLORES E AS CORES)




LÍRIO ROXO



"Viajei por toda a Terra
desde o norte até ao sul;
em toda a parte do mundo
vi mar verde e céu azul.

Em toda a parte vi flores
romperem do pó do chão,
universais, como as dores
do mundo, que em toda a parte se dão.

Vi sempre estrelas serenas
e as ondas morrendo em espuma.
Todo o Sol um Sol apenas,
e a Lua sempre só uma.

Diferente de quando existe
Só a dor que me reparte.
Enquanto em mim morro triste,
nasço alegre em toda a parte."

António Gedeão - Lírio Roxo.


(DO AUTOR - LÍRIO ROXO NA QUINTA DA PROSA)











domingo, 21 de abril de 2013

VOLTOU...


Devem ter-lhe dado as saudades e voltou!

Viu-a através do postigo da porta... e lá estava ela, a olhar o fundo das águas verdes turvas, agora cheias de girinos e pequenos peixes.

As rãs grandes e gordas, da época passada, comera-as ela quase todas, assim como os peixes bem crescidos que povoavam aquelas águas... 

E ela sabia disso... Só que, desta vez, não veio procurar comida... veio observar o seu viveiro, ver da fauna, do seu tamanho, saber quanto tempo ainda falta para voltar aqui, à pesca...


(DO AUTOR - A GARÇA VISITANTE)



sábado, 20 de abril de 2013

FLORES


"Agora, o cheiro áspero das flores
leva-me os olhos por dentro das suas pétalas.

Eram assim teus cabelos;
tuas pestanas eram assim, finas e curvas.

As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,
tinham a mesma exaltação de água secreta,
de talos molhados, de pólen,
de sepulcro e de ressurreição.

E as borboletas sem voz
dançavam assim veludosamente.

Restitui-te na minha memória, por dentro das flores!
Deixa virem teus olhos, como besouros de ónix,
tua boca de malmequer orvalhado,
e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,
com as suas estrelas e cruzes,
e muitas coisas tão estranhamente escritas
nas suas nervuras nítidas de folha,
- e incompreensíveis, incompreensíveis."

Cecília Meireles -  Recordação

(DO AUTOR -  FLORES NÃO SEI DE QUÊ, MAS LINDAS E SUAVES)









sexta-feira, 19 de abril de 2013

DENTE DE LEÃO



Tem nome forte, que contrasta com a delicadeza da sua forma e da sua beleza...

É uma flor, amarela, cheia de raios, como um sol pavão, bem aberto e bem peludo, imitando a juba de um leão. E as folhas serradas, bem dentadas, como as presas do felino... 

Depois de as pétalas caírem, uma a uma, as sementes abrem-se, construindo-se numa esfera leve, como um tule frágil, como espuma que o sopro de uma criança ou o murmúrio do vento desfazem, desmanchando-se a construção e libertando milhares de pequenos chapéus de chuva que voam pelo mundo, como aves, num vôo extensamente definitivo... 


(DO AUTOR - DENTE DE LEÃO PRONTO PARA O VÔO FINAL)


quinta-feira, 18 de abril de 2013

PEQUENA FLOR


"Como uma pequena flor que recebeu uma chuva enorme
e se esforça por sustentar o oscilante cristal das gotas
na seda frágil, e preservar o perfume que aí dorme,

e vê passarem as leves borboletas livremente,
e ouve cantarem os pássaros acordados sem angústia,
e o sol claro do dia às claras estátuas beijando sente,

e espera que se desprenda o excessivo, úmido orvalho
pousado, trémulo, e sabe que talvez o vento
a libertasse, porém a desprenderia do galho,

e nesse tremor e esperança aguarda o mistério transida
- assim repleto de acasos e todo coberto de lágrimas
há um coração nas lânguidas tardes que envolvem a vida".

Cecília Meireles - Pequena Flor

(DO AUTOR - PEQUENA FLOR)



quarta-feira, 17 de abril de 2013

GATO ESPREGUIÇA



"Que imensa preguiça!
Um gato se estica
longo, de pelica,
de pluma e peliça.

A noite é de tubos
de rodas e cubos
borracha e aço curvos
em subsolos turvos.

Que noite! Uma poça
de sombra na boca.
Cega, se alvoroça
e infla, a pupila oca.

Luminosos manda
seus olhos; verde anda
em luz; anda e nada
e é dono do nada.

A noite postiça!
E o gato se estica
em sua pelica,
em sua peliça."

Cecília Meireles - Gato na garagem.


(DO AUTOR - O OURIÇO A ESPREGUIÇAR-SE À PORTA DA GARAGEM)











terça-feira, 16 de abril de 2013

GERAÇÕES


Nos humanos, as gerações demoram o seu tempo a aparecer. Podem coexistir duas, três, quatro, cinco ou mesmo seis, simultaneamente... dos avós, pais, filhos, aos netos, bisnetos, trinetos...

Mas, para que cada geração apareça é preciso um intervalo de 15 anos, no mínimo, ou por aí... E é bom ver, na mesma casa, na casa dos avós velhinhos, toda uma safra de descendentes da mesma cepa... 

Costuma ser assim, no Natal, na Páscoa, na ocasião de um aniversário importante, ou nas férias grandes de verão... Todos, debaixo do mesmo tecto, mas juntos, juntos, só quando sentados na mesma mesa, na hora da refeição... velhos e novos, graúdos e pequenos, convivendo...

Como no galho de uma árvore, agora, na primavera que desponta... cheio de folhas que nascem, meio esbranquiçadas, de outras, verdes, cheias de viço, até às bem vermelhas, no fim de vida, próximas do adeus que se aproxima... as mesmas gerações, no mesmo ramo, dos rebentos brancos às folhas que vão fenecendo, num vermelho de sangue...


(DO AUTOR - GERAÇÕES DE FOLHAS NO MESMO GALHO)














segunda-feira, 15 de abril de 2013

CARACOL



Aproveitou o sol e veio passear...

Desgrudou-se da folha verde onde estava semi-escondido, desceu pelo caule, depois pelo ramo e estirou-se, placidamente, na ponta de um tronco velho, quase todo saído da casca que é a sua casa ambulante.

Os olhos bem abertos, na ponta dos pauzinhos,  sob aquele sol magnífico, "olhavam" como periscópios, de um lado para o outro, de cima para baixo, curiosos e interrogativos...

Veio-lhe à memória uma lenga-lenga da sua infância:

Caracol, caracol
Caracol, caracol
Põe os pauzinhos ao sol

Caracol, caracolinho
Caracol, caracolinho
Sai de dentro do moinho
Mostra a ponta do focinho
  
E a lenga-lenga, parece, cumpriu-se...



(DO AUTOR - O CARACOL COM OS PAUZINHOS AO SOL!)









domingo, 14 de abril de 2013

FORMIGAS



Já chegaram... Começaram a sair dos buracos dos formigueiros, a fazerem carreirinhos nos campos, a subirem às árvores, a chegarem perto das casas, a entrarem e a saírem por qualquer fresta...

Por enquanto são só das pequenas, numa azáfama feita de imensas filas indianas, a cruzarem-se, a trocarem informações, a dizerem, talvez, que na cozinha está um açucareiro cheio de pedrinhas doces...

(DO AUTOR - AS PRIMEIRAS FORMIGAS)



sábado, 13 de abril de 2013

HORTÊNSIAS SINGELAS



São hortênsias ou hidrângias... estas são as singelas, simplesmente porque não florescem da mesma maneira que as outras... umas flores abrem, outras apenas se ficam por flores pequeninas e outras não chegam a abrir...

Dão uma composição invulgar... não aquelas bolas floridas de uma só cor - ou brancas, azuis ou para tons avermelhados - mas este aglomerado de flores pequeninas - também nas mesmas cores - com a saliência de flores brancas e com o centro da cor do conjunto...

São simples, ou singelas - como lhes chamam, nos Açores - e gosto delas...





(DO AUTOR - HIDRÂNGIAS OU HORTÊNSIAS SINGELAS - ILHA DE SÃO MIGUEL - AÇORES)


sexta-feira, 12 de abril de 2013

PAPOILAS



Já cá estão! Bastou um solzinho, uma temperatura mais amena... e já o verde dos campos se pintalga do vermelho ou laranja das papoilas...

Com elas vêm os espirros, os olhos chorosos... outro sinal que a primavera está no ar e que os pólenes andam por aí... E é tempo, também, para as abelhas e outros insectos começarem a importante tarefa da polinização...

É a natureza a acordar do longo inverno e a querer sacudir-se da água abundante que vai escorrendo por todos os lados, mas a lembrar, também, o que o povo, sempre sábio, diz: que "em Abril, águas mil"...

(DO AUTOR - AS PAPOILAS A ABRIREM-SE)






quinta-feira, 11 de abril de 2013

A FLAUTA



"No canto do quarto a sombra tocou sua pequena flauta
Foi então que me lembrei de cisternas e medusas
E do brilho mortal da praia nua.

Estava o anel da noite solenemente posto no meu dedo
E a navegação do silêncio continuou sua viagem antiquíssima"

Sophia de Mello Breyner Andresen, Flauta in Geografia (IV e V), 1962.

(DO AUTOR - FLAUTISTA EM CASTELO DE VIDE, DE SANTOS LOPES)














quarta-feira, 10 de abril de 2013

RISCOS NO CÉU


Quantas viagens? Quantos sonhos? Quantos destinos? 

Riscos brancos num céu azul, cruzando-se em rotas determinadas, em linhas traçadas e bem definidas.

De longe vêm, para longe vão... Depois das partidas, das horas de vôo, ansiadas chegadas...

E lá no alto, riscando de branco, o azul do céu...


(DO AUTOR - CRUZANDO OS CÉUS DO ALENTEJO)


terça-feira, 9 de abril de 2013

SALTAR AO EIXO


Uma das brincadeiras correntes dos recreios nas escolas, nos jardins infantis ou nas praias, no antigamente, era o jogo do saltar ao eixo.

Havia um que amochava o tronco para a frente, apoiava bem as mãos nas pernas e virava a cabeça para baixo, a olhar a barriga, e o resto do bando de rapazes e moças, em fila indiana, um de cada vez, iniciava a corrida, fazia a chamada para o salto e, apoiando-se nas costas do amochado, lá iam pulando e saltando por cima do sacrificado... E o salto tanto podia ser feito lateralmente como de trás para diante. Como se fosse o saltar do plinto, uma das modalidades olímpicas na disciplina da ginástica!

Tal como a cabra-cega, o jogo do lencinho, da macaca, ou as lenga-lengas da linda falua, ou o jogo do anel... tantos... o saltar ao eixo era uma das formas que a juventude encontrava para comunicar e se divertir... era no tempo em que não havia jogos electrónicos, nem telemóveis, smartphones, ipads nem todos esses objectos que isolam as pessoas e as vão afastando, irremediavelmente, dos outros...

O jogo do eixo era mais um jogo de rapazes - a saia das meninas dificultava o salto por ir esbarrar nas costas de quem fazia de obstáculo - que exigia alguma aptidão física para o salto e, à medida que o apuro se ia sofisticando, o elemento que fazia de plinto ia-se endireitando cada vez mais até ficar totalmente de pé, apenas com a cabeça vergada para a frente, fazendo-se o apoio das mãos, agora, não nas costas mas nos ombros...

Hoje, em dia, é raro verem-se jovens a jogar ou saltar ao eixo... o que não foi o caso destas duas orquídeas que, fartas de estarem imovelmente expostas para serem admiradas e fotografadas pelos visitantes do jardim, não se contiveram e toca de  saltar ao eixo... foram apanhadas no momento certo!






(DO AUTOR - A SALTAR AO EIXO - ORQUÍDEAS DO "NATIONAL ORCHID GARDEN" EM SINGAPURA)


segunda-feira, 8 de abril de 2013

AS ESTEVAS


Anunciam a primavera!

Enchem os campos verdes de flores brancas, de um branco imaculado, como se fossem uma reminiscência das neves e das geadas que, até há pouco, eram presença, quase obrigatória, por aqueles lados...

É a natureza, com os seus brancos imaculados, com os seus verdes luminosos, com a multitude de cores  das florinhas rasteiras, a prometer, ao sol radioso duma tarde de Abril, os dias de luz e calor que estão para vir...

(DO AUTOR - UMA ESTEVA A OFUSCAR DE BRANCO O VERDE MOÇO DOS CAMPOS)





domingo, 7 de abril de 2013

AOS BANDOS


Aproveitaram o magnífico dia de sol, uma benesse rara nestes tempos de chuva e invernia, e foram dar o seu passeio... juntas, todas as das redondezas que, fazia tempo, não se encontravam... 

E, em círculos espiralados, em voltas alimentadas pelo vento e pelo calor ascendentes, ali andavam numa conversa redonda, de comadres, de ninhos a reparar, de chuva que nunca mais pára, de campos verdes, de abundância provável de alimentos, de ovos a cuidar, de crias a nascer mais tarde...

Pairaram, por ali, longos minutos.

E quase num mesmo instante, como num adeus síncrono e silencioso, desfizeram o círculo e foram, cada uma, ter com os seus parceiros que guardavam, no ninho, os ovos da sua criação.

Depois daquele silêncio redondo, feito de voltas mudas, quase sem bateres de asas, foi o matraquear de conversas e bateres de asas explicativos, já nos seus ninhos, de cada uma a contar ao seu parceiro as conversas que tinham tido naquele circular passeio de comadres...

(DO AUTOR - CEGONHAS AOS BANDOS, NO CÉU DO ALENTEJO)



sábado, 6 de abril de 2013

O PIÃO



Tive vários... todos de madeira e do tamanho adequado à concha da minha mão... Foram-se perdendo uns, outros ficando com rachas mais ou menos profundas no corpo bojudo quando eram picados pelos dos outros que os atiravam com força e pontaria para cima dos que estavam a girar no chão, outros, ainda, surripiados pelos mais velhos que, por uma questão de tamanho e imposição, simplesmente os apanhavam do chão, enquanto rodavam e os metiam ao bolso... Como se fossem abafadores a "abafarem" os berlindes.

O que ainda tenho é de madeira clara, com uma ponta metálica boleada, sulcos concêntricos no corpo, para ajudar a agarrar a corda que o faz girar e o topo, pintado de vermelho, que serve de pega.

Tão, ou mais, importante que o próprio pião, é a corda, ou baraço, que se enrola à volta do pião de baixo para cima. Assim preparado, e com jeito, atira-se o pião, com energia suficiente e uma leve rotação, e ele aí vai pelo ar, até bater no chão onde fica, a girar, a girar rápido até ficar quase como que imobilizado rodando sobre o seu próprio eixo de ponta metálica...

Podia-se, com a mão aberta, tentar apanhá-lo deixando-o, depois, a rodar na palma da mão, passando-o, de seguida, pela cabeça de cada dedo voltando depois à palma da mão, até que o giro de rotação começava a diminuir acabando por tombar...

Havia quem o atirasse ao ar, o tornasse a apanhar com a corda e o lançasse, de novo, ao ar apanhando-o com a palma ou as costas da mão... 

Jogar ao pião era, de facto, quase uma ciência, uma habilidade, que requeria muito treino e paciência... E não havia recreio na escola em que não se fizesse uma roda em que cada um mostrava as suas habilidades ou tentava picar o pião dos outros...

O pião, hoje, faz parte da arqueologia lúdica, como o berlinde, o arco, a bilharda e tantas outras formas de ocupar os tempos livres...


(DO AUTOR - O VELHO PIÃO COM BARAÇO NOVO)






sexta-feira, 5 de abril de 2013

RELVAS



Cada vez mais vivemos numa república de bananas... Bananas, nós, que aturamos mentirosos, indecentes, pulhas, bastardos, incompetentes, ignorantes, maus caracteres, vergonhosos, atrasados, vigaristas...

O relvas já foi... sem vergonha, com o rabo entre as pernas, o ex-doutor, o ex-licenciado, o desonrado, o pior ministro deste governo... 

Faltam agora ir outros... mais outros... e muitos mais outros...

A assembleia vai ficar vazia...

Honra a meia dúzia... Serão tantos?

(DO AUTOR - VERDADEIRO RELVADO INGLÊS, SEM NADA A VER COM O MIGUEL RELVAS)



quinta-feira, 4 de abril de 2013

O PÁSSARO DE BICO AMARELO


Estava ali, no muro velho da casa branca com moldura azul...

A mesma casa onde, tantas vezes, na sua juventude, ia para a janela do sótão ver os pássaros nos ninhos do velho castanheiro...

Deixou-se ficar quieto, a observá-lo... a olhar os trejeitos da sua  cabeça, a ouvir-lhe os piares aflitos abrindo e fechando o bico amarelo, ao bater das asas  descoordenado, como se estivesse a exercitar os músculos antes de partir para mais um voo experimental... 

E a verdade é que desta vez, não caiu... Ao mesmo tempo que deu o impulso para o salto, bateu as asas com força e seguiu rumo ao céu à procura do ninho de onde, há pouco, tinha caído!  








(DO AUTOR - PÁSSARO DE BICO AMARELO)












quarta-feira, 3 de abril de 2013

LANTERNA


EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS MUITO LINDOS

"Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como uma pobre lanterna que incendiou!"

Mário Quintana



(DO AUTOR - LANTERNA EM MARVÃO)


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terça-feira, 2 de abril de 2013

FÉ INABALÁVEL


Aos Olhos Dele

"Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa,
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda gente
Eu digo sempre, embora magoada;
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor...
E grito ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m'encanta!
Eu creio, sim, eu creio em Deus!"

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"



(DO AUTOR - FÉ INABALÁVEL, EM CAMINHÃO DE SALVADOR)



segunda-feira, 1 de abril de 2013

LIBERDADE



"Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser."


Cecília Meireles


(DO AUTOR - LIBERDADE DE VOAR  - PRAIA DE MOLEDO DO MINHO)