sábado, 20 de abril de 2013

FLORES


"Agora, o cheiro áspero das flores
leva-me os olhos por dentro das suas pétalas.

Eram assim teus cabelos;
tuas pestanas eram assim, finas e curvas.

As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,
tinham a mesma exaltação de água secreta,
de talos molhados, de pólen,
de sepulcro e de ressurreição.

E as borboletas sem voz
dançavam assim veludosamente.

Restitui-te na minha memória, por dentro das flores!
Deixa virem teus olhos, como besouros de ónix,
tua boca de malmequer orvalhado,
e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,
com as suas estrelas e cruzes,
e muitas coisas tão estranhamente escritas
nas suas nervuras nítidas de folha,
- e incompreensíveis, incompreensíveis."

Cecília Meireles -  Recordação

(DO AUTOR -  FLORES NÃO SEI DE QUÊ, MAS LINDAS E SUAVES)









1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo e suave :)
São Raposo