sexta-feira, 23 de abril de 2010

A DOÇARIA CONVENTUAL E O DIA MUNDIAL DO LIVRO

Portugal é um país doce. Doce de clima, apesar das grandes transformações destes últimos tempos, doce no viver, doce na afabilidade e no receber, e, sobretudo, doce nas suas sobremesas. 

Para falar de doces tem-se de falar muito de conventos, de ordens religiosas, de frades e de freiras, de monges e de monjas. E os doces, precisamente por serem doces, precisam de açúcar e, para que cheguemos ao açúcar, é necessário recuar uns séculos, talvez à segunda metade do século XV, altura em que o açúcar da Madeira e o do Brasil começa a chegar, em abundância, a Portugal. Até essa altura o mel era o principal elemento adoçante da culinária na Europa, embora os Árabes, que por cá viveram muito tempo, nos tivessem deixado um grande legado em doces de açúcar, do verdadeiro, não apenas dos doces melados.

Açúcar e ovos, principalmente as gemas, são os dois elementos que mais caracterizam os doces dos Conventos. Mas também os frutos secos, em particular a amêndoa, herdada também das tradições árabes, fazem parte, quase integrante, dos doces, conventuais ou não, sejam do Alentejo ou  do Algarve. As gemas abundavam porque as claras eram usadas para "engomar" as toalhas dos altares e os hábitos das freiras, e eram  usadas, também, para clarificar o vinho branco, sobrando as gemas, que eram oferecidas às "pobres" das freiras dos conventos.

Muitas destas freiras vinham de famílias nobres, habituadas a um certo requinte de comida e de doçaria e, assim, não foi difícil desenvolver uma arte tipicamente feminina.

Tirando raras excepções, os frades e os monges dedicavam-se mais à arte enólica, não só no fabrico de vinhos mas, também, no de licores e aguardentes.

Tudo isto a propósito de que decorre, este fim-de-semana, aqui em Portalegre, no Convento de Santa Clara, a X Feira da Doçaria Conventual, com uma série de actividades: doces e as novas criações gastronómicas, laboratórios de gosto, concursos, animações, exposições, "workshops", música... que vão trazer movimento e cor, além de muita doçura, a esta Cidade.

E falar de doces conventuais é falar das "Fartes", quase só açúcar, gemas e amêndoa, da "Encharcada" só com açúcar e gemas, do "Leite Serafim", este com um tudo nada de farinha de arroz e de trigo, para além de leite, dos ovos e do açúcar, do "Manjar Branco", desta vez sem ovos, mas com açúcar, leite e farinha de arroz, do doce "Fidalgo" feito com trouxas de ovos e ovos moles, ou seja, gemas e açúcar, uma vez mais, e de um enorme et cétera, pois a quantidade de doces conventuais quase não acaba.

Também, hoje, é o Dia Mundial do Livro. Mais um dia mundial! Mas, este deve ser sempre celebrado, todos os dias se possível, pois só o livro nos traz cultura, sabedoria, enriquecimento intelectual, conhecimento e mais um et cétera imenso de virtudes que acompanham os livros, a literatura e os bons hábitos de ler.

Resta-me comemorar, da melhor maneira, este dia, e por isso vou comprar um Livro sobre a Doçaria Conventual.

1 comentário:

Anónimo disse...

Grandes marcos da literatura Culinária e Gastronomia Portuguesa.

Aqui ficam algumas referências:


http://tralhasvelhariasantiguidades.blogspot.com/