Trouxera-o de Minsk. Comprou-o num antiquário e custou-lhe uma pequena fortuna, em rublos.
Em prata, todo desenhado, com motivos florais e arbóreos, de uma minúcia e perfeição que quase diria ter sido feito com a perícia e a paciência de um chinês. De um dos lados, uma plantação de chá, com duas ou três figuras de mulher a colherem as folhas das plantas. Do outro três flores, provavelmente de Camélia sinensis.
Tinha-o comprado porque lhe agradara a peça mas nunca lhe passara na ideia usá-lo para fazer o seu próprio chá. Para isso tinha um bule, antigo, de porcelana, que nunca lavava, e onde preparava, com algum ritual, o seu chá.
Chegava habitualmente cedo a casa. Ocupava parte do dia no escritório, despachava o correio e o expediente e, depois, fazia o trajecto a pé até casa; uma forma de manter a sua actividade física neste passeio diário de cerca de 30 minutos.
E chegava quase ansioso pelo seu chá.
O seu chá Oolong, com sabor entre o chá preto e o chá verde, num balanço de aroma e paladares, mas forte na intensidade com o amargo deixando um resquício de sabor adocicado. Preferia o cultivado nas Montanhas de Wuyi enrolado em longas folhas curvas. Encomendava-o na mesma casa de chás e cafés, já há muitos anos, sempre com a mesma qualidade.
Depois de feito, sentava-se na varanda, com vista para o mar, e ali ficava, escutando Mozart, Beethoven, Bach, os seus favoritos, bebendo o seu chá e imaginando cenários para a sua próxima peça...
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