Aproveitou uma terça-feira de liberdade e foi até às alturas, até um dos seus refúgios. Era sempre que ali ia quando se queria encontrar consigo próprio.
A subida, de curvas e contra-curvas, e o ar fresco da manhã, meio feito de fumos das queimadas e meio de neblinas frescas, eram como um bálsamo que ia sentindo a percorrer-lhe o corpo e os sentires à medida que se aproximava daquele ninho de águias.
Parou o carro lá bem no alto, saiu lento e foi encostar o seu olhar à muralha junto ao jardim. Ficou ali a ver a vastidão do mundo que o olhar permitia, a imaginar-se personagem de um tempo longínquo, de cristãos e de mouros, de conquistas e de lutas...
E o castelo ali ao lado! Faz tempo que lá não ia, ouvir os ecos da cisterna escura, cisterna que nunca o ajudou nas respostas que procurava porque lhe devolvia sempre as perguntas que lhe fazia, subir às muralhas, entrar naquele quarto sem janelas, mesmo no meio do castelo, e ir ao topo acenar a Castelo de Vide e à Senhora da Penha.
Percorreu todos aqueles lugares, deixou que a memória soltasse recordações, que as vivências se tornassem presentes, que a solidão daquele lugar lhe fizesse a companhia que precisava naquele momento.
Entrou no carro revigorado, sentindo-se castelão do seu castelo de sonhos.
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