sábado, 9 de outubro de 2010

O BANDO

Era quase como uma massa escura que se deslocava em uníssono pelo ar, contra o céu azul, limpo de nuvens, num movimento aparentemente errante.

Umas vezes comprimia-se o conjunto e ficava ainda mais denso e mais escuro, outras, quase se abrindo, como o fole de um acordeão, deixando adivinhar os minúsculos pontos de cada ave.

E ele, ali, daquela janela, de parapeito largo, a gritar ao ar, como Álvaro de Campos:

    "Quero ir convosco, quero ir convosco,
      Ao mesmo tempo com vós todos
      Por toda a parte pr'onde fostes!
      Quero encontrar vossos perigos frente a frente,
      Sentir na minha cara os ventos..."

...transformar meus braços em asas como as vossas, fugir do mundo, da humanidade e ir a caminho pr'a onde fores.

E, a pouco e pouco, o bando lá ia, rumo a sul, rumo ao mar, esfumando-se na sombra do horizonte...


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