Foi até ao fundo da quinta, lá em baixo, junto aos marmelos. As árvores carregadas, os ramos vergados pelo peso, pediam a colheita, precisavam largar-se daqueles frutos que agora já lhes eram incómodos. Queriam espreguiçar os ramos cansados e preparar-se para o inverno que, rápido, se aproxima... é que o outono passa depressa e os frios ali, junto à ribeira, chegam mais cedo.
Tinha levado um cesto, de bom tamanho, a tesoura da poda para ajudar na recolha dos marmelos e uma escada de alumínio para colher os frutos mais altos. Felizmente que as árvores são baixas e de rama pouco densa.
Encheu o cesto por três vezes, nunca tinha colhido tantos...
Os mais maduros ia assá-los, com açúcar, canela e um cheiro de porto e ia deixá-los ficar na assadeira de barro a absorverem a própria calda açucarada, adocicando a polpa; os outros, entregava-os à Catarina, que tinha umas mãos únicas para fazer a melhor marmelada que já conhecera e, também, a geleia. E, este ano, ia ter com que se entreter.
Até lhe fazia confusão esta prodigalidade da natureza, a abundância da sua horta e do seu pomar. Parecia que a crise ainda não tinha chegado por aqueles lados... ou seria a natureza, sempre sábia, a lembrar a necessidade de cuidar bem, de guardar, de não desperdiçar, para obter os frutos que ela, também generosa, sabe dar?... e sem juros!
Sem comentários:
Enviar um comentário