O vento era de leste, um levante forte, de força 4 a 5, a carneirar a superfície de um mar azul carregado, com ondas cavas, que obrigavam a um "surfar" prolongado e perigoso. Às vezes, o barco atravessava-se naquele baile de vento e água e comprometia a navegação e o rumo determinado. As velas aproveitavam bem o vento quente e retesavam os cabos, sentindo-se uma tensão enorme em toda a estrutura.
Ao longe, um veleiro, numa bolina afirmada, quase deitado, afrontava o vento, as ondas e os carneiros deste mar forte e poderoso.
Não havia momentos para descanso, a atenção ao leme era constante, aos panos, sempre a corrigir, e o barco a ondular ao sabor dos movimentos das águas e do fragor do vento.
A tarde a fugir, as luzes de costa a adivinharem-se ao longe, o farol do cabo, na sua intermitência ritmada, dizia faltarem cerca de 15 milhas para chegar.
Mais uma hora e meia, por aí.
O aproximar difícil, o retirar do pano, o enrolar das velas, a noite escura e uivante, e as luzes da entrada a confundirem-se com as da marina, logo por trás.
O motor em potência máxima a tentar equilibrar o barco num mar todo desequilibrado, desorientado, com ondas de mar e de ricochete a fazerem parecer estar-se numa casca de noz, qual caravela em pleno Cabo das Tormentas. Só faltava o Adamastor!
Depois a entrada e, quase por milagre, o vento abrandou, a água alisou, e o "rom rom" do motor a dizer, como um gato, que se chegou a porto seguro!
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