domingo, 8 de agosto de 2010

O FOGO

Quase lhe rondou a porta.

De início era aquele cheiro no ar, a atmosfera um pouco embaciada e o céu a acordar com um vermelho alaranjado intenso. Depois, à medida que o lusco-fusco ia embora e o dia clareando,  que o vento ia crescendo e o calor começava a aumentar, começou a aperceber-se de um fumo ao longe, que subia por detrás do monte na direcção das antenas. Depois  cheiro a lenha queimada, o estalar próximo dos pinheiros e as aves a passarem na mesma direcção, a fugir à nuvem de fumo que se ia aproximando.

Meteu-se na moto e foi tentar aperceber-se do que se estava a passar. Quando chegou ao cruzamento com a estrada nacional, não foi preciso olhar... as chamas lambiam o restolho dos campos a menos de 100 metros, o vento espalhava as labaredas, como se estivesse a pôr manteiga no pão.

Voltou para trás e accionou os mecanismos. Os bombeiros já estavam avisados e esperavam que o dia raiasse com mais luz para que o helicóptero pudesse levantar.

Ligou a rega, colocou as mangueiras em ordem e começou a molhar tudo em volta da casa, a deixar que a aquela chuva tivesse tempo de aguar bem os terrenos, as árvores, as sebes e o pedaço de mato que religiosamente conservava na sua estrutura original.

As chamas apareceram ao fim de pouco tempo, empurradas pelo vento que se fazia sentir, mais forte agora, e a incendiarem as copas dos pinheiros.

Como do nada o helicóptero apareceu e largou aquele balde enorme de calda retardante, no sítio exacto, no momento oportuno.

As chamas não passaram e aquele bloco de mato, humedecido, serviu de barreira ao evoluir das chamas.

Não passou do susto. Grande, um susto de impotência e medo.

Os bombeiros por lá ficaram, no rescaldo.

Arrumou as mangueiras e, pelo sim pelo não, deixou a rega a funcionar o resto da manhã.

Ficou o cheiro a fumo, a lenha ardida.

Os pássaros voltaram e ficaram por ali, a banquetearem-se de figos, de ameixas e das groselhas que ainda restavam.

O chilrear de boa disposição quase fez esquecer o acordar emocionante daquele dia.

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