sábado, 28 de agosto de 2010

ANDORINHAS

"...
Cahia mansa a noite; e as andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares
Suspensos no beiral da casa..."          -          Guerra Junqueiro - Aos simples.

Vêm com a primavera e partem com o Outono. 
Vêm em bandos e assim se vão.
Quando chegam voltam ao ninho onde nasceram ou onde ficaram pela última vez. São fiéis aos lugares.
Hábeis na recolha de insectos no ar, realizam verdadeiras proezas acrobáticas, com grande capacidade de voo, bastante agitado e rápido, o que lhes permite fazer voos rasantes, quase assustadores, de precisão.
A sua ligação à primavera está bem contextualizada em Aristóteles (na obra Ética a Nicómano) que refere "... tal como uma andorinha ou um dia não faz a primavera, um dia ou um curto espaço de tempo não faz um homem afortunado ou feliz", no provérbio "uma andorinha não faz a primavera" ou no fado canção de Carlos do Carmo "Por morrer uma andorinha  - ...  Se deixaste de ser minha, Não deixei de ser quem era, Por morrer uma andorinha, Não acaba a primavera..."

Mas há uma história entre um gato e uma andorinha: é uma história de amor do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá. 

"...
Chegava então a Primavera. O Gato Malhado, o preguiçoso e solitário era mal visto e temido por todos. Não falava para quase ninguém. Havia também uma jovem andorinha risonha e despreocupada que fazia palpitar o coração em todos. Além de bonita, um pouco louca também; e como o Gato Malhado nunca lhe tinha falado pois era um orgulhoso provocou-lhe uma certa curiosidade e admirava-o.
Um dia, quando todos haviam fugido do Gato, a Andorinha foi rindo para ele e chamou-o de feio. Ao fim de algumas brincadeiras destas, das quais os pais da Andorinha nem os habitantes gostavam, eles foram brincando e conversando às escondidas. Depois de muitas confianças o Gato Malhado ia ficando apaixonado e com ciúmes, pois o Rouxinol era muito amigo da Andorinha e dava-lhe aulas de canto.
No fim do Verão, O Gato Malhado disse-lhe que se não fosse gato casaria com ela. Depois pouco se falaram. E Começaram a haver rumores de que o Gato namorava com a Andorinha e os pais dela não gostaram de saber… Então apressaram-se a marcar o casamento da Andorinha com o Rouxinol.
Chegou o Outono e o Gato sozinho escrevia poemas para a Sinhá e assim se passou… E chegou o Inverno, realizou-se o casamento do Rouxinol com a Andorinha Sinhá apesar de ela gostar do Gato, e de já lho ter dito; mas sabia que não podia casar com um Gato.
O Gato Malhado no seu sofrimento saiu caminhando em direcção à confusão do fim do Mundo. Viu por ultima vez a Andorinha na sua festa, onde também ela o viu, triste sabia para onde ele ia e deixou escorrer uma lágrima de tristeza e de adeus. O ultimo adeus que o iluminou no seu caminho". (Jorge Amado).
 


 

 

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