segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A CAÇADA


Estava tudo combinado!
Encontro às cinco e trinta. O carro, já com o motor a trabalhar, parecia aguardar, com impaciência, a chegada dos caçadores, mais o cesto do pequeno almoço, os bancos de armar, os sacos com os costilos e as costelas, e os frascos com as agúdias. 
Partida na hora, viagem curta.
À chegada é noite ainda, mas tudo tem de estar pronto antes do sol aparecer. É tempo de colocar as armadilhas. Os sítios são os do costume, os que vão receber os primeiros raios rasteiros do sol. Limpa-se o local, arma-se a costela, ou o costilo, prende-se a agúdia, escondem-se as armadilhas com folhas secas e terra, e passa-se ao local seguinte.
As madrugadas, na serra, começam a esfriar e apetece bem, depois de dada a volta, sentar no banco ao calor das brasas que aquecem a água para um café.  A cafeteira chia, a água começa a borbulhar e deitam-se cinco ou seis colheradas de pó cheiroso de café, duas mexedelas, já com a cafeteira fora do lume, uma espera de meio minuto e, depois, o colocar da brasa incandescente para que as borras assentem bem no fundo. Cada um, entretanto, foi colocando o pão em cima das brasas, e preparando as suas torradas, bem barradas de manteiga. Café servido sem pressas, mas a olhar o horizonte, à espera dos primeiros raios de sol.
 Seis horas e vinte minutos e eis o sol, vermelho laranja, a despontar, a saudar e a prometer um dia quente. A tranquilidade do bosque, feito de pinheiros e de carvalhos, agita-se. Piados, trinados, chilreios, assobios, enchem de melodias aquele lugar. A cada estalo de armadilha que se fecha, um silêncio significativo mas, logo de seguida, a sinfonia recomeça.
É altura de ir dar a volta, recolher os pássaros apanhados e rearmar as armadilhas. 
O sol já subiu suficientemente alto e é altura da segunda e última volta.
A contabilidade final não foi má. Promessa de um bom arroz.
Regresso de uma alvorada sempre emocionante e sempre esperada em cada fim de Agosto de férias.

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