sexta-feira, 28 de maio de 2010

O ALOQUETE

É sempre altura para nos esquecermos de alguma coisa.
Fechei a mala com um aloquete, e esqueci-me das chaves em cima da secretária. Um drama para tentar abrir a coisa sem deixar danos ou não ter que ir, de mala aviada, até um serralheiro para serrar a peça.
Sentei-me, concentrei esforços mentais no sentido de resolver a situação sem grandes alardes ou intervenções de outras pessoas. Era quase um vexame para mim próprio, isto, de me ter esquecido das chaves.
Dei voltas à imaginação. Não podia usar os meus instrumentos de MacGyver, aquele da série televisiva que era  capaz de consertar quase tudo com um canivete suíço e pouco mais, porque tinha deixado o meu Victorinox dentro da maldita mala, fechada com um aloquete quase inviolável. Tentei abrir de lado, mas a mala é daquelas rígidas que não cedem a tentativas de aberturas; experimentei rebentar o orifício por onde entrava e saía o raio do aloquete e, nada.


Um desespero.
Uma chatice!
O que fazer?
Sem solução à vista resolvo ir à recepção do Hotel contar a minha desventura. 
Parece que é habitual. 
Que fosse para o quarto que dentro de pouco tempo alguém lá iria tentar resolver o problema.
Voltei acabrunhado pela situação, irritado comigo próprio pelo desleixo, zangado com a minha organização mental, porque falhou.
Liguei a televisão e esperei. Dez minutos e a campainha a tocar. 
Dois empregados, um impecavelmente fardado como os da recepção, e o outro de fato macaco, azul escuro, e uma enorme turquês na mão.
Indiquei a mala, expus o aloquete e o tipo, o do fato macaco, com um golpe de turquês, TRUZ, abriu a peça. 
Tudo limpo, sem rasgaduras, sem ferimentos, sem axes... só o aloquete que ficou inutilizado. Bem feita, também foi ele o causador de tudo isto!
Agradeci, quis deixar uma nota de cinco euros na mão do homem que, polidamente, recusou. 

Assim que fui à rua, passei por uma loja onde comprei outro aloquete, sem chaves, só com números, daqueles de rodar. Tem quatro algarismos para fazer a combinação.

Oxalá não me esqueça: 9985? 5899? 9859? ou será 1265?

Bolas... lá vou ter que chamar o homenzinho de novo!

 

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