domingo, 9 de maio de 2010

LES BOUQUINISTES

Acordei cedo, já um hábito antigo, mas desta vez deixei alongar o tempo na cama larga e macia do quarto deste Hotel clássico e cheio de charme. Depois, dei-me ao luxo de encher a banheira enorme: despejei o frasco do "gel de bain aux huiles essentielles de menthe et d'eucalyptus" e abri a torneira deixando sair a água quente num jorro forte de modo a produzir uma quantidade apreciável de espuma e a imaginar-me a entrar num amontoado de farofas, das de claras em castelo. E ali fiquei naquela água quente, meio adormecido, totalmente relaxado, com os pensares desligados, até a espuma desaparecer, a água começar a arrefecer e a sentir a pele a ficar engelhada.
O pequeno almoço despertou-me as papilas gustativas ao máximo, mas tive de me conter frente à quantidade  intensa de tentações calóricas, feitas de gorduras saturadas, açúcar e muito colesterol. Não resisti à sedução dos "croissants" estaladiços, acabados de sair do forno!
Às 9h 30m a manhã fresca, mas ensolarada, convidava ao passeio pela cidade e resolvi descer os Campos Elísios, inflectindo, depois, para as margens do Sena e acabando por ir assistir à missa gregoriana das 10h 30m, a Notre Dame. Uma missa diferente, tradicional, com grupos corais gregorianos a darem uma sonoridade muito especial àquele lugar. Os coros enchem o espaço da catedral e os sons invadem-nos e convidam a uma meditação profunda.
À saída, o Sol inundava a praça, agora repleta de excursões e com uma fila imensa de pessoas aguardando a entrada na Catedral. Os sinos tocavam a meia hora e o ribombar deles, mesmo por cima de mim, deixaram um ecoar forte e persistente na minha cabeça.
Pensei ir até ao "Marché aux puces", para os lados de Clignancourt, mas ficou-se só o desejo, porque os pés levaram-me para a "rive gauche" e, durante mais de duas horas percorri,  tranquilamente, as bancas dos "bouquinistes" na procura de livros sobre relógios de bolso, carros antigos, postais portugueses e gravuras relacionadas com alguns temas da minha preferência. Fui acumulando o peso dos exemplares antigos que fui adquirindo, o que me fez voltar ao Hotel para me libertar da carga.
O pequeno almoço deixou-me sem fome para almoçar e a hora já tinha passado há muito. Voltei a sair para mais uma volta breve pois ainda tinha que trabalhar sobre os textos a apresentar na reunião que me trouxe a Paris.

O fim da tarde a aproximar-se, o céu a começar a cobrir-se de nuvens fofas e o estômago a começar a queixar-se do jejum prolongado. Resolvi ir jantar a uma cervejaria-restaurante das minhas recordações, ao Chez Jenny, junto à Place de la République, uma cervejaria alsaciana dos anos 30, um lugar cheio de encanto e história, deixada em imagem nas centenas de fotografias de celebridades espalhadas pelas paredes dos salões e no mobiliário da época e, também, por ser um lugar de referência no que respeita à cozinha da Alsácia. O porco assado e caramelizado acompanhado da chucrute  e de um "Riesling" fresco, e um sorbet de pêra com "eau de vie" , como sobremesa, completaram as delícias deste domingo quase sempre de sol, de temperatura agradável, mas bastante arrefecido à saída do restaurante.



O metro trouxe-me às margens do Sena para esta fotografia que aqui deixo. As nuvens que começaram a aparecer ao fim da tarde parecem prometer chuva para amanhã ou mesmo, ainda, esta noite.

Altura para apressar o passo mas, as pernas cansadas do passeio de quase todo um dia, retardaram  a chegada ao Hotel donde, agora, escrevo neste blog.





 

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