terça-feira, 30 de novembro de 2010

O MERGULHO

Tinha vindo à superfície várias vezes... desde manhã cedo que a sua presença tinha sido assinalada.

Enquanto andava lá por baixo, ia deixando as pegadas nas águas daquele mar azul, límpido e tranquilo, o que permitia acompanhar-lhe o passeio.

Mas desta vez veio por mais tempo, ficou ali, à superfície, a brincar aos esguichos, aos sopros, a dar pequenos mergulhos como a convidar a um passeio lá em baixo.

Entretanto chegaram outros, estabeleceram conversas naquele falar feito de gritos abafados, guinchos por vezes inquietantes, brincaram, e por ali ficaram...

À volta, os barcos, as máquinas fotográficas, o encanto do avistamento e da proximidade com estes seres marinhos, gigantes, tranquilos, pacíficos...

Quase apetecia saltar para dentro de água, tocar, passar a mão naquela pele espessa mas frágil, sentir o volume da sua importância, e mergulhar, ir ao fundo... e, ao voltar, tal como eles, soltar um esguicho forte, imenso, possante, aspergindo de água e sal o mundo ao redor... purificando o ambiente, a terra, os homens...

Até que chegou a altura de se ir embora ... tempo da partida... fez uma inspiração mais profunda, levantou bem a cabeça, um piscar de olhos a despedir-se... encurvou o corpo... deixou que o dorso luzidio brilhasse uma vez mais diante dos olhares atentos e ansiosos... levantou a cauda... e, num adeus... mergulhou!
 
 (Mar dos Açores, frente às Ilhas do Pico e Faial - 2008)


1 comentário:

Anónimo disse...

gosto!









isabel mendes ferreira.