O dia acordou cheio de vento, daquele que uiva como os lobos, daquele que faz abanar as árvores, partir os ramos e que acaba com os resto das folhas que ainda persistem presas aos galhos.
Os animais inquietos, o gato num miado assustado, a encostar-se às paredes, a arquear a coluna, os cães a ladrar, a ganir ou quase uivar ao desafio dos ventos, os pássaros escondidos, calados e bem abrigados nos ramos mais fortes e de folhagem densa e persistente.
Uma rajada mais forte, violenta, a fazer bater portas não trancadas, a levantar telhas mais soltas, a atirar longe os ouriços prenhes de castanhas, a fazer vergar árvores modestas e a sacudir copas de sobreiros velhos.
E a chuva, batida, empurrada, soprada por este vento doido, que não dá sossego.
E ela, no conforto da casa, com o calor da lareira acesa, um lume do azinho e do sobro a deixar o lar atapetado de brasas vermelhas e quentes.
E a panela de ferro, no cimo dos seus três pés, a chiar a sua água quase em fervura, como que a querer silenciar o vento com esse "schiu" feito vapor.
O Jornal vinha cheio de avisos, de alertas, laranjas, vermelhos... a prenunciar agoiros, rios e ribeiros a galgar margens, cheias, inundações, árvores caídas... a anunciar um São Martinho molhado, frio e ventado.
Ou será o São Martinho a preparar o seu verão e a varrer os frios, os ventos as chuvas, para nos dar as castanhas e a água pé num dia de sol, quente e sem vento?
3 comentários:
Mal soube da existência deste seu blogue, através da entrevista que lhe foi feita durante o programa Atlântida, transmitido a partir da Praia da Vitória, vim espreitá-lo. Gostei.
Bonita descrição da chegada do S. Martinho. Até parece que estou a vivenciar tudo o que descreve...
Aqui, em S.Miguel, estamos a viver um verdadeiro Verão de S. Martinho!
Bem haja!
Margarida Vitória
Bem esgalhada, a história... ver o São Marinho a varrer ventos, a sacudir a chuva...
Vamos ver como vai ser a Festa da Castanha em Marvão... também o meu refúgio...
Que sole e não chova!
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