O dia de sol convidava a um passeio junto à beira-mar. Passeou mais de meia hora, num passo normal, naquela faixa de areia escura, mais molhada e dura, junto ao final da rebentação.
De vez em quando apanhava um pedra lisa e atirava-a tangente à água tranquila da praia, quase sem ondas. A pedra a saltar, uma, duas, três... seis, sete vezes. Não conseguia passar dos sete saltos. Se a pedra entrava num ângulo mais incisivo, mergulhava de imediato, sem um pulo, sequer. Mas, se a tangente era perfeita o pulo era longo e ia-se encurtando de pulo para pulo até ao sétimo salto... curto de nada.
Acabado o passeio, antes de voltar ao hotel, resolveu sentar-se na areia escura da praia, ali, na beira-mar de uma maré vazia. Olhou a areia, escura, lisa, sem vida, quase inerte e alargou o olhar para o mar, estendendo a vista até onde ela ia... porque daquele lugar, sem nenhum obstáculo diante dele, o horizonte ficava muito distante, muito para lá do longe.
De novo baixou o olhar e reparou, agora atento, que aquela areia, quase negra, afinal, tinha vida: os camarões da areia, semi-transparentes, a pular como a pedra que ele fazia saltar pelo mar dentro, os esguichos das conquilhas escondidas debaixo da areia, os caranguejos a atravessarem-se na sua frente com a sua passada lateral apressada, mais adiante um pássaro atrevido a tentar apanhar uma minhoca do mar e, naquela poça de água que ficou esquecida junto a uma rocha polida pelas marés, os alcabozes nadavam tranquilos como peixes em aquário.
Curioso!, quando se sentou naquela areia escura e a olhou, nada viu no relance do olhar, mas agora, ao quedar-se com mais atenção, reparou na imensa vida que lhe passava diante dos olhos.
É por isso que, às vezes, as primeiras impressões, não mostram a realidade, não deixam ver o que ali está diante de nós... nada como um olhar mais atento e curioso sobre a vida para descobrirmos aquilo que realmente existe e que sempre esteve, ali, diante de nós.
1 comentário:
É pena que insistimos em manter os olhos fechados, quando á nossa volta a vida pula, em vez de uma mão de “nada” temos tudo, o belo, a paz, o amor a felicidade. O que precisamos é ver em vez de olhar. Obrigado em me ensinar a ver!
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