O meu amigo João telefonou-me.
Andava com problemas de saúde e queria que eu o observasse.
Pedi-lhe que me trouxesse uma radiografia do tórax e assim que a tivesse que viesse ter comigo.
Apareceu-me ontem de manhã, com a radiografia, com uma TAC, com a mulher e com um ar desesperado.
Lera os relatórios. Ele é médico e entendeu tudo muito bem: tumor extenso, com gânglios mediastínicos e metástases cerebrais.
Queria saber se era operável, quanto tempo teria de vida.
O João sempre foi um fumador. Ultimamente, para enganar o vício e se enganar a ele próprio, optou por fumar cigarrilhas.
Primeiro foi a bronquite, com aquela tosse e expectoração que nunca paravam, depois a hipertensão arterial, mais tarde os problemas circulatórios, e entrou num correr de expectorantes - logo a seguir ao cigarro da manhã-, de "by-pass" coronários e periféricos - e o cigarrinho sempre na ponta dos dedos -, de comprimidos vasodilatadores - e as cigarrilhas a serem fumadas até ao fim-, de anti-hipertensores - e agora só a fumar cinco por dia -.
O cansaço a tomar conta dele e ele a insistir no fumo.
Nunca ligou aos avisos, ao que lhe dizíamos todos, colegas e amigos, e o João, com o seu lacinho ao pescoço e o seu ar de dandy, ia fumando a sua vida, alcatroando as vias respiratórias, enchendo-as de bronquites, de DPOCs, de metaplasias, de neoplasias...
A verdade?
Seis meses a um ano. Não vai passar disso.
E assim vou perder um amigo, um colega, um "compagon de route".
Acho que te quiseste cremar em vida com tanto tabaco que queimaste.
E agora, João?
Vou começar a chorar por ti mesmo antes de te ires embora?
2 comentários:
Tétrico!
Mas verdadeiro
Beatriz Morcego
Doído
Ana Hertz
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