quinta-feira, 15 de julho de 2010

O CRISTAL

Comprara-o no Mercado Modelo, em Salvador. Logo ali, junto à base do Elevador Lacerda.

Um Mercado onde se encontra de tudo: roupas, artesanato, pintura, bugiganga, boa comida, acarajé bem frito - a saber ao bom feijão-fradinho com aquele azeite de dendê - e pedras preciosas e semi-preciosas, muitas! Tem é que conhecer os bons vendedores.
   
Tinha a mania das pedras, principalmente dos quartzos, dos cristais de rocha, daqueles com geometria quase perfeita, hexagonais, como mandam as leis da cristalografia, e de transparência quase total.

Dizem que têm potencial energético, que activam uma série de funções no nosso organismo, que melhoram as chacras, que influenciam o espírito, tornando-o mais positivo. Só coisas boas! Absorvem a energia negativa e, se esta for muito negativa mesmo, então são capazes de se quebrar ou rachar ao meio. É o que se diz!

Nunca tirou benefício disso. Dão a sensação de frio na pele quando se toca nelas, mas isso tem a ver com os fenómenos de condução térmica descritos em qualquer manual sobre as leis da física. 

As dores sabe que não as tira. É que, quando a articulação do punho anda mais incomodada, ou mesmo dorida, antes de colocar o punho elástico, para conter e apoiar os movimentos, às vezes passa o cristal mas a dor não atenua. Fica apenas com uma agradável sensação de frio.

Mas não os tem por causa disso. É por uma questão  mesmo de gostar, pela pureza, pela transparência, pela geometria. E gosta de os sentir ali perto de si, de os pegar na mão, de sentir o frio daqueles blocos que quase parecem de gelo.

Os Gregos acreditavam que os cristais de quartzo não eram mais do que blocos de gelo que tinham congelado a temperaturas tão baixas, tão baixas,  que já não podiam derreter, ficando eternamente congelados.

Há gente (nem lhe chamo pessoas) que, por acção do tempo, do mau carácter, da inveja, da ruindade, da cobiça e ambição, vão ficando empedernidas, herméticas, duras, impermeáveis, inderretíveis e frias, ganhando algumas das características do cristal. Mas a comparação fica por aí. Se as pudéssemos transformar em mineral, em vez da pedra linda e transparente não iam ser mais do que  pedra negra, amorfa, dura que só presta para calçada de rua, para ser pisada, calcada, espezinhada. 



1 comentário:

Anónimo disse...

Confia. Ainda existe gente que conserva no coração a inocência.Eu tenho um quartzo rosa imenso no meu quarto. Presenteei alguém que amei muito com um semelhante há uns anos atrás, mas com o passar do tempo percebi que ele não era inocente, embora se mostrasse assim, aproveitou que meu amor era cego e não me amou, apenas jogou com sua personalidade arrogante e calculista.