"O pior é o cansaço!"
"Faço um gesto e fico a arfar. Quando era jovem arfava muito, mas era por outros motivos, por outros prazeres. Agora? Nada disso! Também o marido já tinha morrido há seis anos e eu, com estes oitenta e cinco, já não vou a lado nenhum!"
Foi assim que começou a conversa!
Não se queixava de nada, só do cansaço.
Fora isso já tinha sido operada umas nove vezes: ao útero, ao ovário direito, a uma prótese da anca, ao coração, à vesícula biliar, ao outro ovário, a uma hérnia inguinal, a uma catarata do olho esquerdo e ao tendão da mão direita. Tomava uns dez medicamentos diferentes por dia mas, não se queixava de nada.
Só do cansaço! Que a deixava a arfar da sala à cozinha, e tinha que se sentar, e descansar, depois descascar as batatas para o almoço e a cansar.
Sim, é que vivia sozinha. Os filhos, longe, na vida!
Sim, é que vivia sozinha. Os filhos, longe, na vida!
Precisava dum remédio para o cansaço.
Que actuasse!
Não a deixasse naquele arfar de vida!
Esqueceu-se de mencionar que tinha fumado desde nova. Deixara há 3 meses. Já não podia suportar o afogo que lhe provocava o cigarro. Pior ainda que o cansaço era a falta de ar com que ficava quando acendia o "maldito" e dava o primeiro trago.
Mas agora não.
Era só o cansaço.
Os pulmões aniquilados, anquilosados, os brônquios retorcidos, ressequidos... isso não interessava.
Agora era só o cansaço, terrível, angustiante, o arfar...
Que saudades do arfar de antigamente...
1 comentário:
Sr. Dr., haverá um medicamento que actue, de facto, quando o arfar é causado pelo cansaço de viver?
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