segunda-feira, 5 de julho de 2010

CONTENTORES

Sempre andaram por aí de árvore em árvore, de ramo em ramo, aventurando-se no chão à procura de algum grão, de uma migalha.
Lembro-me bem, uma vez em Budapeste, sentado na esplanada de um café e de eles virem pousar na mesa a debicar as côdeas do pão e as migalhas de um bolo. Sem temor, com naturalidade e à vontade. Pensei comigo que, como aqui ninguém faz mal aos pardais, eles ganharam a atitude de virem, sem pedir licença, bicar os restos de comida: uma espécie de simbiose, limpam as mesas e, ao limpar, têm a refeição grátis e sem esforço.
Esta manhã, ao dar o meu passeio madrugador, reparei que os pardais da minha cidade são mais do tipo "homeless", vagabundos, sem eira nem beira. A verdade é que também não vi, naquela rua, qualquer esplanada e, muito menos, alguém a tomar um café e a comer uma sanduíche ou um bolo que fizessem migalhas.  O que vi foi que assim que a camioneta do lixo esvaziou os contentores de um supermercado, que estavam ali no passeio, ei-los, em bandos, famintos, a entrarem dentro dos caixotes verdes à procura das sobras, no chão do passeio, atropelando-se uns aos outros... até restos de fiambre comeram. Tudo entrava... 
Eles magros, de penas despenteadas, de olhar triste e piar desconsolado, mas agressivos na disputa do alimento.
Por enquanto eram só eles. Ou será que os verdadeiros "homeless" já tinham passado antes? E a partir de agora quantas mais pessoas vão passar a andar, envergonhadamente, a procurar os restos dos outros?  
Prenúncio de 7 anos de vacas magras?


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