"Doutore, meu nariz está cheio de feridas. Coloco gota nele fica a arder e quando assoo sai um fiozinho de sangue, bem vermelho. Tem mais! Espirro a toda a hora e sinto como uma goteira escorrendo na garganta. Isso dá uma tosse!"
É mineira, trabalha na limpeza e está em Portugal faz dois anos. Não perdeu o jeito de falar, nem a pronúncia. Não ganha muito, trabalha todo o dia e, ao fim de semana faz mais umas horas. Deixou dois filhos lá, com os avós, o pai das "criança" sumiu para o Rio Grande do Sul. Ela acha que ele tem lá mais filhos para alimentar. Os dela, os "mineirinho", ficaram só ao cuidado da mãe! Vive com a irmã na outra banda do rio, num saguão, com uma cozinha pelo meio e uma casa de banho rudimentar; o quarto, onde dorme a meias com a irmã é interior e cheira a mofo.
Vida dura, má alimentação, pouco descanso, escasso dinheiro, sem inscrição na segurança social e, por enquanto, clandestina.
Diz que lá ainda é pior! Aqui, sempre junta algum dinheiro para mandar educar os "menino".
A receita digo que vá levantar na farmácia, aqui mesmo em frente, e que diga ao farmacêutico para "botar" o preço dos "remédio" na minha conta - ele sabe! -, a consulta paga em "muito obrigado, doutor" e leva esta nota para ajudar no transporte de regresso.
Ainda há quem insista em dizer que não há crise?
2 comentários:
Pois, (h)istórias comuns a tanta gente.
Brava gente brasileira...!, que não se importa de dormir,comer e fazer tudo pouco, pelos "menino".
Meu herói, mais uma vez.
Beatriz Morcego.
Deus te Abençoe
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