Mas, para nós portugueses, falar da África do Sul é lembrar a arte em que fomos Campeões do Mundo: a dos Descobrimentos e não só.
Fomos os primeiros a dobrar os cabos do fim da África, é na África do Sul que vivem muitos emigrantes portugueses, e por lá passou e viveu, em Durban, o "nosso" e "universal" Fernando Pessoa.
A primeira referência vai sempre para Camões, o nosso maior poeta que, tão bem, relata o episódio da passagem do Cabo das Tormentas e que, depois de passado e vencido, passou a chamar-se Cabo da Boa Esperança, comparando-o e referindo-se à figura do Adamastor, no Canto V, estância 39:
"Não acabava, quando ua figura
se nos mostra no ar, robusta e válida,
de disforme e grandíssima estatura;
o rosto carregado, a barba esquálida,
os olhos encovados, e a postura
medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
a boca negra, os dentes amarelos."
É de notar a semelhança da descrição com a fotografia do cabo da Boa Esperança, tirada de terra; imagino que do mar, no meio das ondas alterosas, de ventos e neblinas, de medos, de pavores, de susto o aspecto pareça ser, ainda, mais medonho.
Fernando Pessoa na Mensagem - 2.ª parte: Mar Portuguez, também se refere ao Mostrengo, a simbolizar o medo do desconhecido e, ao mesmo tempo a revelar a coragem para o enfrentar e o vencer:
Fernando Pessoa na Mensagem - 2.ª parte: Mar Portuguez, também se refere ao Mostrengo, a simbolizar o medo do desconhecido e, ao mesmo tempo a revelar a coragem para o enfrentar e o vencer:
"O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei D. João Segundo!»
Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»"
São passos da nossa História, da história do povo deste país pequeno de que nos orgulhamos, tão bem cantada e glorificada por estes homens grandes.
1 comentário:
QUANTOS MONSTRENGOS NOS PARALIZAM DE MEDO FRENTE AO QUE É NOVO, DESCONHECIDO.HÁ QUE SE TER ALMA DESTEMIDA E CORAJOSA PARA NAVEGAR EM MARES NUNCA DANTES NAVEGADO...
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