Estacionava o carro sempre no mesmo sítio. Tinha lugar marcado naquele parqueamento e, assim, não tinha necessidade de andar a procurar lugar.
Habitualmente saía de casa à mesma hora, fazia o mesmo percurso e entrava pela sempre mesma entrada do parque.
Uma rotina certa, regular, quase cronometrada.
Saía do parque, comprava o Jornal, na mesma banca de sempre, e ia sentar-se sempre no mesmo banco do jardim à espera que o café abrisse as portas, também, sempre à mesma hora. Nos dias de chuva, em vez do banco do jardim, ia sentar-se no parapeito do canteiro de flores que ficava mesmo à entrada do café.
Portas abertas pela mesma empregada, uma romena loura de olhos azuis, sempre com um sorriso de bons dias, e pedia sempre o mesmo: o pão com sementes e queijo, o copo de água e a bica. Folheava o jornal, lia as notícias que mais lhe interessavam, fazia as palavras cruzadas e, quando fosse a hora, sempre a mesma, pagava, invariavelmente os 2€, já com a gorjeta, e seguia para o trabalho.
O trabalho era rotineiro, a mesma coisa de sempre, a correspondência para responder, os assuntos para resolver, as questões para decidir, os telefonemas para fazer, a hora do almoço a chegar.
O restaurante era sempre o mesmo. Só comia o prato do dia, sempre o mesmo cada dia da semana.
Depois o fim do dia era sempre a mesma coisa. Uma rotina igual, cronométrica, como um relógio mecânico, um tiquetaque de vida, sempre a mesma.
Naquele dia ao sair de casa deu que tinha um pneu do carro furado. Chegou atrasado, perdeu o lugar no estacionamento, não bebeu a bica na mesma mesa, a empregada do escritório tinha faltado por doença, o restaurante tinha fechado para obras, o relógio avariou, um desastre…
Acabou a tarde no psiquiatra.
1 comentário:
Lamentável que as pessoas sejam tão pouco criativas e vivam com o botão do automático ligado.Observo que nestes tempos tão desconfortáveis, ninguém quer mais sentir, nem coisas boas, nem coisas más e quando algo sai da rotina, surtam!
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