Deu mais uma olhada no casco. A tempestade de há poucas horas, violenta e inesperada, tinha-lhe atirado o barco de encontro às rochas aceradas da costa de Andratx.
Fora impossível qualquer manobra para evitar o encontro. Navegava junto à costa com o pano todo aberto, aproveitando o vento forte mas certo. Tinha previsto chegar a Palma cedo pela tarde. O avião era ao fim do dia. Tinha tempo. Salvo se surgisse algum contratempo.
E veio!
Sob a forma de tornado que, subitamente, se levantou no mar. Mesmo a estibordo, súbito, acompanhado de um barulho estranho, uma espécie de rugido, que ia aumentando de volume até se tornar ensurdecedor. O mar, como que aspirado por aquele vórtice, elevou-se num repente, libertando um chuveiro inclemente, salgado, que precedeu uma onda, quase uma parede de água, que levantou o barco e o projectou para cima das rochas.
A ressaca da onda voltou a pôr o barco na água. Felizmente que não largou, nunca, a roda do leme e manteve-se preso no seu lugar.
Pôde continuar a navegação até Andratx. Logo ali, adiante.
Ao colocar-se o barco em terra verificou que só o casco ficou ferido, o patilhão aguentou, o mastro e as velas ficaram incólumes. Nem rombo, apenas uma rasgadura no casco exterior, uma reparação fácil mas com alguma demora. Era preciso verificar se a estrutura do barco não teria sido afectada.
Tinha seguro! Deixou as formalidades para o seu agente em Palma.
Esqueceu o avião, telefonou a adiar os compromissos do dia seguinte e, nessa noite, tranquila, sem vento e de lua brilhante, ergueu o copo aos astros e deixou-se ficar na esplanada do restaurante a olhar a baía iluminada de Andratx.
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