sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A CASA

Foi construindo a casa aos poucos, num terreno inclinado, aos socalcos, num extremo da pequena vila, bem no coração do Alentejo.

Uma casa branca, debruada a azul, daquele forte, alentejano, a fazer moldura às janelas e à porta de entrada, e a separar a casa do chão de terra.

Entra-se pelo alto e vai-se descendo, degrau a degrau, que vão separando a sala da cozinha, o quarto da casa de banho, até chegar aos últimos degraus que terminam no quarto principal, em baixo, e a dar para um terraço, pequeno, intimo, mas abrir-se para um horizonte imenso que parece não acabar.

A piscina, de pouco tamanho, continua o terraço e deixa imaginar uma praia  onde, em vez de se ver e ouvir o mar, a vista se espraia por campos sem fim que deixam escapar sons longínquos musicados na ruralidade daquele lugar.

A casa é pequena, cabem, à justa, quatro pessoas, mas torna-se grande quando está ali, só, a gozar o espaço, a cheirar a atmosfera, a olhar o sem fim do horizonte, a descansar da vida, a sonhar a felicidade.

No inverno, quando a casa esfria, a salamandra do quarto deixa subir o calor que aquece e  perfuma, de azinho e sobro, todo o ambiente em pouco tempo. 

E sabe bem, naquelas tardes soalheiras e tranquilas de Dezembro e de Janeiro, sentar no cadeirão do terraço e ver o fumo branco-acinzentado a sair das chaminés das casas ao longe, subindo numa vertical que parece querer tocar o céu e o sol, baixo no horizonte, avermelhado, a provocar um contra-luz único de vermelhos e cinzentos.

O verão, ali, é duro, tosta a pele, calcina os ossos, seca a respiração, faz doer o corpo. A piscina, ajuda a refrescar, amansa o calor e faz suportar a brasa. 

E de novo, o terraço, nos fins de tarde, com o calor mais fresco, a deixar um crepúsculo suspenso de ocres com diferentes matizes. 

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