Ali estava, amarrado, preso a um fio, melhor, a um tubo de vida que lhe administrava o oxigénio, continuamente, a 2 litros por minuto, a refrescar-lhe e a secar-lhe as narinas.
Não se ia livrar daquilo. Era a sua prisão, mas era, também, a sua vida.
Ironia! O ter de viver agarrado a um tubo de plástico que lhe insuflava a vida nas narinas. Morria se esse fluxo vital parasse. Não conseguia estar muito tempo sem o oxigénio.
Bem o avisaram que não fumasse, bem lhe disseram que, mais tarde, ia ter de ficar dependente de medicamentos, do oxigénio e, talvez, de uma máquina para o ajudar a respirar.
Não quis, ou não conseguiu libertar-se. O vício, a dependência, eram superiores à razão e à justeza dos conselhos. Bem que tomou drogas, aplicou adesivos, mastigou pastilhas elásticas, colocou agulhas ou usou pulseiras. Andou num psiquiatra mas nada deu.
Vontade tinha! Desejo, também. Mas faltou a determinação, a decisão.
Deixar de fumar era fácil! Deixou de fumar umas dez vezes. O problema era, sempre, o recomeço. Estava uma ou duas semanas, roía as unhas, comia rebuçados ou caramelos, engordava dois ou três quilos e depois tudo voltava. Começava por um ou dois cigarros, apenas depois das refeições (dizia para se convencer) e, nos dias seguintes, lá estava na sua navegação de cruzeiro a fumar os dois maços da ordem, cada dia!
E o cansaço a aumentar, subreptício, lento, primeiro nas subidas mais inclinadas, depois no levantar dos pés para os degraus da entrada de casa, ultimamente nem mesmo a andar em plano. O fazer a barba já o deixava exausto e, por isso, passou a usar a barba dos três dias, era mais moderno, dizia, a desculpar-se perante os outros; o apertar o nó dos sapatos passou a ser penoso, remédio simples, passou a usar "mocassins", era mais cómodo para andar, argumentava para si próprio. As unhas e os lábios a ficarem azulados quando fazia um esforço maior, se fosse mulher pintava as unhas e os lábios para não ter que se ver como alguém da realeza, de sangue azul, ele que fora sempre republicano!
Foi doloroso o ter de aceitar a situação, o ver-se açaimado e atrelado a uma garrafa de oxigénio. Claro que pode passear, trabalhar, fazer a sua vida, mas preso àquilo, àquele tubo de vida, àquela seiva gasosa que lhe permite viver...
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