Brancos de silêncio como a névoa
Um frio tão azul brilhava no vidro das janelas
As coisas povoavam os meus dias
Secretas graves nomeadas"
Um pálido inverno - Sophia de Mello Breyner Andresen - Obra poética.
O frio é muito na serra húmida e escorregadia. O fino manto de geada que cobre o mato rasteiro e o vento que desce da encosta arrefecem, ainda mais, o ambiente.
As paredes do quarto, escurecidas pelo tempo, ressumam a humidade entranhada e os vidros das janelas, frios como a serra, parecem chorar lágrimas geladas e cristalinas que vão escorregando silenciosamente.
A enxerga fria obriga-o a enroscar-se em si próprio tentando aquecer, com a manta de quadrados castanhos em que se embrulhou, o corpo gelado e as mãos frias, quase insensíveis.
Sem sono, mas cansado, vai deixando passar, silenciosamente, as horas, demoradas e longas, esperando que a claridade pálida do alvorecer o acordem de um dormitar breve e solto.
E, enquanto ali está, deitado e tremendo de frio, vai desenrolando o filme da sua vida, libertando o passado, revendo os Natais da sua infância, pensando na família e nos amigos que foi perdendo, olhando a vida que foi deixando escapar e que agora, na solidão e tristeza do seu viver, não passam apenas de recordações e de memórias esgotadas...
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