Acostou o barco ao cais. O dia amanhecia e a neblina da manhã quase impunha um ambiente de mistério associado à angústia e à expectativa do regresso.
Foram semanas fora, sozinho, falando apenas consigo próprio pois, na sequência de uma onda gigante que lhe inundou o barco, ficou sem comunicações e impedido, por isso, de usar o Skype via satélite. Felizmente que o GPS , o radar e o piloto automático escaparam àquela água e lhe foram permitindo manter a rota traçada e chegar a bom destino, embora com algum atraso.
Sabia que não teria ninguém à sua espera. Daí, também, a angústia que sentia.
Ela adoecera, já ele andava pelo mar e, enquanto estiveram em contacto, ia acompanhando a evolução, o internamento hospitalar, a cirurgia... depois, mais nada! Veio a onda grande que tudo varreu. Agora teria de ir ao encontro do desconhecido.
A casa fechada, as flores secas na jarra da mesa de camilha, a cama por fazer, o quarto com a roupa dela espalhada aconselhavam a ida o hospital onde tinha sido operada.
As más notícias, o desfecho trágico, a dor, a tristeza, a saudade...
Voltou ao cais, largou as amarras, e fez-se ao largo com o olhar molhado de lágrimas salgadas do mesmo sal de que era feita a água daquele mar...
2 comentários:
Gostei muito. Beijinhos, lola
É lindo, profundo, e dá vontade de morrer. Eu não me importava.
Beijos
Berta
Enviar um comentário