"Um dia, magro e sentindo um real desfastio,
Um macaco com a pele de um tigre se vestiu.
O tigre fora malvado, ele tornou-se atroz.
Ele tinha assumido o direito a ser feroz.
Arreganhava os dentes, gritando: eu serei
O herói dos matagais, da noite o temível rei!
Como malfeitor dos bosques, emboscado nos espinhos,
De horror, morte e rapinas, escureceu os caminhos,
Degolou os viajantes e devastou a floresta,
Fez tudo o que havia feito aquela pele funesta.
Vivia no seu antro, no meio da voragem.
Todos, vendo-lhe a pele, criam na personagem.
Gritava e rugia como as feras danadas:
Olhem, a minha caverna está cheia de ossadas;
Olhem para mim, sou um tigre! Tudo treme,
Diante de mim, tudo recua e emigra; tudo freme!
Temiam-no os animais, fugindo com grandes passos.
Um domador apareceu e tomando-o nos braços,
Rasgou-lhe a pele, como se rasga um farrapo,
E pondo a nu o herói, disse: Não passas de um macaco!"(Poemas - Victor Hugo - Jersey, Setembro de 1852)
Será que nos vamos deixar aterrorizar por mais macacos?
2 comentários:
A pele é tudo quanto queremos que os outros vejam em nós...porque debaixo dela, nem nós sabemos quem somos...Vê o macaco, que tolinho...rsrsr
Grave é que a pele, frequentemente, assenta-nos mal...
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