sexta-feira, 11 de março de 2011

O RELÓGIO DE CUCO

Comprara-o há uns anos atrás. 

Dos autênticos, dos feitos na Floresta Negra, a terra destes relógios quase de encantar.

Nasceram de uma lenda, da lenda de um cuco que vivia naquela floresta, livre e amigo de todos os bichos que por lá moravam. Nessa floresta escura, como faz parte de muitas lendas, vivia uma bruxa pérfida, horrorosa e feia. E sempre que do alto da sua árvore avistava a bruxa má, quando esta saía de casa para procurar os animais que ia capturar para as suas poções ou encantamentos, punha-se a cantar o seu "CUCOOOOO, CUCOOOOOOO" bem alto, para que todos  se pudessem esconder, gorando, assim, os intentos da bruxa má.

Ora, a bruxa, porque é bruxa e tem poderes, cedo se apercebeu que aquele cuco era a causa do seu insucesso nas suas saídas perversas. E tratou de lhe montar uma armadilha para capturar aquela ave, tão amiga dos outros animais e tão atenta às deambulações da bruxa pela floresta.

E, por artes de magia negra, lá conseguiu apanhar o pobre do cuco. Não o quis matar e, porque era má, resolveu fechá-lo, para sempre, numa casinha  que tinha pendurada na parede da casa. Era uma casinha de madeira, que tinha um janela pequena que o cuco podia abrir mas que o impedia de sair.

Quando os outros animais se aperceberam que o cuco não cantava mais para os avisar da bruxa trataram de o procurar por todo  o lado, mas sem sucesso.

Assim, sem cuco a "cucar" o seu canto, a bruxa podia sair  à vontade apanhando, desprevenidamente, todos os animais que precisava para as suas bruxices.

O infeliz do cuco, aprisionado naquela pequena casa de madeira, já não podia ajudar os outros animais e andava triste por isso, pois estava fechado dentro de quatro paredes com uma janela, donde não podia sair.

Até que teve uma ideia! Um bingo! Se podia ir à janela, podia voltar com o seu "cucar", ainda mais forte, para avisar os seus amigos da floresta sempre que a bruxa saísse de casa. E, se algum animal ouvisse o seu Cuco, esse animal ia passando aos outros, o grito de aviso do cuco, voltando a salvar todos bichos da sua floresta.

E assim nasceu a lenda deste cuco feito prisioneiro numa casinha de madeira, pendurada na parede de uma casa e que cantava várias vezes ao dia.


Daí a fazer-se o primeiro relógio foi um instante.

E o seu relógio de cuco, fiel e cumpridor, agora que já não há bruxas daquelas na floresta - as bruxas e os bruxos de agora vivem nas cidades, são de outra qualidade, muito pior e muito mais maliciosos, muito mais traiçoeiros e vingativos - continua, cada meia hora, a sair da sua janela e a lançar o seu cuco, a avisar das horas que são.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom seria que os cucos só dessem horas boas...