Fruto da conjugação dos astros e, em especial, da fase da lua, a maré estava particularmente baixa.
O mar tinha recuado o suficiente para deixar à mostra rochas que há muito não eram avistadas, para deixar que o areal se alargasse quase a perder de vista, para se deixar entrar por ele dentro, algumas centenas de metros, sem que se perdesse o pé, e para deixar a orla da praia cheia dos mais variados objetos: de conchas a plásticos, de pedras, bizarras na forma, a latas de refrigerantes, de alforrecas adormecidas a restos de algas castanhas...
No seu passeio à beira mar quase que ia tropeçando naquele bocado de madeira, velho de idade, certamente, e velho, também, de gasto e de carcomido pelo mar, pelos ventos e pelo sol.
Resto de um tronco de árvore, quase desfeito, trazido pelas marés, pelos ventos e pelas correntes. Jazia agora, inerte, na praia, à espera do encher da maré para ser levado, de novo, para outras costas, outras praias, na sua viagem sem destino e sem fim.
(Deception island - Antártida - 2009) |
Aquele nó na madeira corroída, fez-lhe parecer um olho, um olho que o olhava fixamente, com um olhar penetrante, perscrutador, como se fosse o olhar petrificado de algum ser marinho, ou de algum ente da mitologia marítima que tivesse vindo, da profundeza dos oceanos, até àquele lugar, para respirar o ar puro e sereno daquela manhã especial e diferente.
2 comentários:
Muito bonito e tocante. Obrigada pelo envio.
Beijinhos.
Lolla.
Ainda há quem esteja em férias? Cadê a crise???
Beijos
Berta
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