quinta-feira, 25 de agosto de 2011

BARRIGAS DE ATUM

Comera-as, pela primeira vez, em Cabo Verde.

O dono de uma fábrica de conservas de atum, na Ilha do Sal, convidara-o a prová-las na sua casa; uma casa virada ao mar, mesmo  em cima da praia.

Um convite especial para provar uma iguaria que era desconhecida de todos os que foram convidados naquela noite de ambiente quase tropical, com música feita de mornas e de coladeiras.

Apreciava bastante a carne do atum, embora lhe apontasse, como maior defeito, o facto de ser um pouco seca e a enrolar-se na boca quando era comida em bocados maiores. Daí dar a sua preferência aos bifes de atum em cebolada, por a untuosidade da cebola lhe dar a sensação de mais humidade e libertar mais os paladares.
  
A verdade é que, e já lá vão quase duas dezenas de anos, aquela experiência gastronómica o deixara totalmente rendido: cortadas em tiras, quase como "bacon", e postas a grelhar, iam libertando a gordura que estava entremeada na carne, impregnando de sabores aqueles nacos que eram comidos a sair da grelha, acompanhados de uma simples batata cozida, para que nada mais fosse macular aquele sabor tão especial.

As barrigas e as cabeças, eram consideradas quase um desperdício, a parte menor do atum. Para as conservas o mais valioso eram os lombos, o chamado atum em posta, aquela carne branca, que se separa facilmente, e que se junta às saladas, ou se prepara, na cozinha, em pratos mais elaborados. A pasta de atum e o sangacho, eram feitos com a carne mais escura, mas mais saborosa, e que não era aproveitada para a tal posta de atum.

Hoje voltou a comer as barrigas de atum!

Ao passar junto a um restaurante de peixe viu, na montra, duas barrigas, ainda inteiras, de pele lustrosa, acinzentada, de carne rosada, bem entremeada de tiras esbranquiçadas, a garantirem, se fossem bem cortadas e bem grelhadas, um manjar especial.



Entrou e falou com o homem da grelha que garantiu a frescura, assegurou da qualidade e não deixou dúvidas em relação à maneira como seriam grelhadas. Que já não eram baratas. Que já foi o tempo, agora são mais caras que os bifes do mesmo, e que vem gente de longe para as vir comer.

Nem quis saber dos outros pratos da lista, encomendou ali mesmo, no balcão, e sentou-se à mesa que ficava perto da janela, coberta por toalha de papel branco, a olhar a ria, a deixar que o fim de tarde, cheio de rosas nas nuvens e de ouro nas águas paradas da maré vazia, lhe trouxesse as saudades, agora revividas, daquele jantar na Ilha do Sal.




1 comentário:

Anónimo disse...

Não conheço Cabo Verde, mas adoraria lá ir mesmo sem barrigas de atum.
Beijos
Berta