Conseguiria chegar a tempo?
O trabalho terminara tarde, ainda estava longe de casa, muito longe. A tarde fria e chuvosa a esgotar-se e quase sem tempo para chegar a horas. Tinha prometido que chegava antes da meia-noite, ainda a tempo do Natal.
A estrada escura, molhada, com rios de água feitos pelos rodados dos camions, o nevoeiro a chegar e o trânsito a avolumar-se. Ainda faltavam muitos quilómetros, a distância parecia que não queria encurtar, e o tempo a passar.
Onze horas da noite... a faltar já menos de uma hora para o prometido.
Ela, em casa, enroscada na manta, olhava o lume da lareira, escutava o chiar da panela de ferro, a querer acreditar que iria ter a sua primeira consoada a dois... ela e ele.
A estrada a encurtar-se, o céu a dar tréguas à chuva, a lua cheia, como um balão enorme, a espreitar por entre as nuvens negras e a iluminar a paisagem, a deixar o caminho livre, a abrir as portas do Natal.
E-lo que chega, quase em cima da hora... Ela, a desenroscar-se da manta de quadrados, a saltar do sofá, a acender a vela vermelha por cima da lareira e a correr-lhe para os braços...
Finalmente o Natal chegara, para os dois.
2 comentários:
Muito bonito e terno. Já não vai havendo tempo para consoadas a dois.
O Tempo tem tempo, como se diz no Alentejo...
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