Onde eu era feliz e tranquilo e a criança que eu era..."
(Álvaro de Campos).
A minha velha tia chamava-se Ana, e a sua casa era no campo, no Lamegal.
E lá, fui uma criança muito feliz e tranquila...
Uma casa de aldeia, na Beira Alta, de granito, de bom tamanho, com uma escada por fora, a subir encostada à casa, um patamar com alpendre e a porta de entrada. Era uma casa rectangular com um pátio interior.
Entrava-se para uma sala para a qual davam dois quartos, um de cada lado, e dela saía um corredor curto que terminava numa varanda interior, em quadrado, com o centro, onde era o tal pátio, de céu aberto. Os quartos e as salas dispunham-se à volta dessa varanda.
A cozinha encostava-se a um enorme penedo de granito que fazia de parede. E tinha uma "marquise", comprida, toda envidraçada, com uma mesa enorme onde nos sentávamos, nos lanches de sábado, a comer o pão acabado de cozer no forno, com sardinhas, também assadas no mesmo forno.
Nunca mais vi nenhuma assim, nem nunca mais comi lanches, assim, tão saborosos.
Voltei lá há uns anos atrás. Abandonada, desventrada, em ruína total... uma tristeza!
A saudade feliz que me fez voltar lá, transformou-se, quase no mesmo instante, numa nostalgia triste e desiludida...
(A casa do Lamegal - fotografia de Ricardo Campos)
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