Estavam ali, na banca do supermercado, bem acondicionados, bem expostos, vermelhos, a lembrarem enfeites de Natal, daqueles de pendurar na árvore.
Além do mais deitavam um aroma que já não era habitual sentir... cheiravam mesmo a morango, a lembrar os "fraises du bois" que comera, uma vez, em Paris!
Os últimos que tinha comprado também eram bonitos, rechonchudos como um beijo, mas quase a cheirarem a nada e, depois, ao saboreá-los, foi uma desilusão: boa consistência mas, mais nada, nenhum paladar.
Estava decidido, ia comprar duas caixas destes a cheirar a morango, com um vermelho forte e intenso de bolas de Natal e ia guardá-los para a consoada... já quase à porta.
É verdade, este ano passou rápido, tinha sido um ano cheio de mudanças, um ano diferente.
Levou duas caixas, quase um quilo de morangos.
Antigamente, nesta altura, nunca havia desta fruta mas, agora, com as estufas, com os transportes rápidos, era possível comer fruta fresca vinda dos países tropicais, ou do outro lado do mundo... até na fruta a globalização aconteceu!
Mas estes morangos tinham cheiro. No curto trajecto até casa o carro ficou impregnado deste aroma único do morango.
Pôs as duas caixas em cima da banca da cozinha enquanto abria a porta do frigorífico para arranjar um espaço para os guardar... até ao Natal! A pensar numa sobremesa especial, em que colocava os morangos num espeto de madeira e mergulhava, de seguida, numa calda quente de chocolate.
A fazer-lhe lembrar Bruxelas, a Grande Place, a casa Leónidas na esquina... uma tentação.
A fazer-lhe lembrar Bruxelas, a Grande Place, a casa Leónidas na esquina... uma tentação.
Mas o aroma que estes exalavam necessitava de confirmação em termos de sabor. Abriu a caixa, pegou num, pelo pé, e trincou-o desconfiada se não iria saber a nada. Mas não, o sabor correspondia ao cheiro, eram mesmo uma delícia... e deixou-se tentar por mais outro, e outro, e outro, e outro... e fechou a caixa rápido para a meter no frigorífico. Naquele espaço ali, mesmo ao lado da taça com o chocolate que preparara na véspera para os crepes com chantili.
E a gula a tentá-la, a pedir-lhe para aquecer no microondas aquele chocolate frio, a deixá-lo bem quente, e a mergulhar, um a um, cada morango naquele "fondue" dos deuses...
Passou o resto da tarde naquilo... a saborear prazeres, a imaginar sentires, a recordar saudades...
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