Vai regressar a casa.
Passaram seis anos. Nasceu-lhe uma filha cá. De um quarto alugado de início, a uma parte casa e, depois de uma casa minúscula e antiga, mudou-se para outra, mais recente e um pouco maior. O espaço não abundava mas vivia mais confortável. Assim viviam: ela, o marido, o filho mais velho e a filha nascida cá.
O problema era viver o dia a dia. O marido, muitas vezes sem emprego, além de não ajudar economicamente, levava, com alguma frequência, o álcool para casa e destilava os maus humores nela e nos filhos. O filho mais velho, na escola, tinha problemas de relacionamento com os colegas e, por vezes, ela recebia telefonemas da professora por causa das brigas e zaragatas que ele criava ou lhas criavam os colegas. A filha tinha que andar em bolandas do infantário para a ama, quase sempre constipada ou com os problemas da alergia. Ela, no seu emprego, entre limpezas e atendimento atrás de um balcão, numa vida de corre corre, a levantar cedo, a preparar o pequeno almoço para os filhos, a levar o filho à escola e a menina ao infantário, a ter de deixar o almoço meio preparado para o marido que, de novo, estava desempregado, pegar o autocarro para estar, impreterivelmente, às nove no emprego. Ao fim do dia, pelas seis da tarde, desbobina o filme ao contrário, e quando chega a casa começa a preparar o jantar, faz a limpeza da casa, lava a roupa, dá banho aos filhos e, por fim, encontra cinco minutos de paz.
E a vida correr mal, o casal discutir mais do que falar, os amuos a serem constantes, e a vida a desfazer-se... cada um a querer seguir o seu rumo. Ela, pouco motivada, na vida, no trabalho.
Mas sobretudo eram, também, as saudades da terra, as saudades da mãe, da família, da casa, do pedaço de terra lá longe. Fora o lugar onde nascera, o lugar onde fora criada, onde crescera, onde aprendera a ler e a escrever, onde tivera o primeiro namorado... depois partiu para outra terra, conheceu o marido, tiveram o filho e resolveram vir procurar novas oportunidades.
Oportunidades que, verdadeiramente, nunca surgiram. Fora uma vida de sacrifícios, de invernos frios a que não estavam habituados, de modos de vida diferentes, de dinheiro que nunca abundou, de desilusões...
Agora chegou a altura de regressar, de recomeçar.
Boa viagem! Boa sorte! Bom regresso!
1 comentário:
Infelizmente, não é só ficção... Há cada vez mais vidas desfeitas, existências gastas em coisa nenhuma.
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