terça-feira, 22 de maio de 2012

FIM DE TARDE

Não há dúvida que o tempo, o clima, melhor dizendo, tem andado muito avariado, ou variável, se raciocinarmos em termos barométricos.

A verdade é que nuns dias faz sol e calor de verão, noutros faz chuva, vento e frio, variando tudo de um dia para o outro, ou misturando-se tudo, até, num mesmo dia.

Ontem, quase que foi um dia assim: esteve de sol, depois apareceram as nuvens, em seguida veio o vento, quase que ameaçou chuva, e tudo isto foi aparecendo no trajecto entre Lisboa e o Algarve onde, lá, para além de haver um sol magnífico, fazia mesmo calor. E, não fora o vento de sudoeste que se fazia sentir por toda a costa, naquele meio e fim da tarde, apetecia, era, um passeio pela praia e sentir o beijo fresco do mar.

Sentado numa esplanada, enquanto esperava pelo encontro aprazado, foi assistindo ao recolher do sol que, pela força do vento e por interferência das nuvens, lá para os lados do fim do mar, se foi esborratando lentamente até desaparecer, num último mergulho, no mar de ouro sem fim que coloria a tarde já morta, daquele lugar.

(do autor - pôr do sol em Vilamoura - Quarteira)

"No ouro sem fim da tarde morta,
Na poeira de ouro sem lugar
Da tarde que me passa à porta
Para não parar,

No silêncio dourado ainda
Dos arvoredos verde fim,
Recordo. Eras antiga e linda
E estás em mim...

Tua memória há sem que houvesses,
Teu gesto, sem que fosses alguém,
Como uma brisa me estremeces
E eu choro um bem...

Perdi-te. Não te tive. A hora
É suave para a minha dor.
Deixa meu ser que rememora
Sentir o amor,

Ainda que amar seja um receio,
Uma lembrança falsa e vã,
E, a noite deste vago anseio
Não tenha manhã."




In Fernando Pessoa - Poesia Ortónima - Poesia lírica - No ouro sem fim da tarde morta 




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1 comentário:

Professora disse...

Sol a sugerir FÉRIAS (como as desejo!) e Pessoa sempre fantástico. Pena a vida não ser só poesia. Até podia ser com verso branco.
Beijos
Luísa