segunda-feira, 7 de maio de 2012

COÇA-ME AS COSTAS

Era isso que ela lhe dizia todas as noites: Coça-me as costas!

E ele, com imenso carinho, com a mesma ternura do primeiro dia, melhor, da primeira noite, lá lhe começava a coçar as costas, de início guiado pela voz dela que lhe ia dizendo "mais abaixo", ou "mais acima", ou "para esse lado"... e, depois, com o culminar do "coça aí, com força!".

Com os anos, com o conhecimento que já tinha dos sítios exatos onde, e da intensidade da comichão dela, o coçar quase se processava de forma automática: o sítio onde começava, as zonas onde o coçar deveria ser mais intenso ou mais prolongado até que ela, satisfeita, lhe pedia o abraço terno.

E, enquanto a coçava, iam falando deles, do muito amor que sentiam um pelo outro mas, também, da vida, do trabalho, do amanhã...

Era assim todas as noites, como um ritual preparatório de uma noite que precisasse de ser bem dormida, ou de uma noite que pedisse muito amor...


(do autor - Foz do rio Minho)
Agora, desde que ela partiu - maldita doença! - as noites e os momentos de coçar transformaram-se em noites de saudade, em noites de monólogos, numa solidão indesejada...

Mas os dedos, esses não perderam o jeito de coçar e, hoje, é a Dourada (aquele hábito de pescador de pôr o nome de peixes aos bichos lá da casa!) que vai ronronando à medida que ele lhe vai afagando o dorso, como se ela lhe comunicasse e ele entendesse os sítios que lhe dão mais satisfação e prazer...

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3 comentários:

Professora disse...

"Gato que brincas na rua,
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama."
Fernando Pessoa (mais ou menos assim)
Beijos
Luísa

Anónimo disse...

uma sortuda essa gata!

Anónimo disse...

Adorável este teu texto! Beiinhos, lola