sexta-feira, 11 de junho de 2010

CAVALO DE PAU

Tem uma crina de sisal, daquele com se fazem as cordas de atar os embrulhos grandes, a cabeça é em madeira, com um recorte na zona da boca, um furo no lugar dos olhos e as orelhas são dois pedaços de couro, em forma de folha e agrafados ao pedaço recortado de madeira que representa a cabeça e o pescoço.

A meio do pescoço um cilindro de madeira atravessa-o de lado a lado e é a peça que serve para segurar, com as mãos, toda a estrutura.

Do pescoço para baixo mais um cabo em madeira, do tamanho aproximado ao de uma vassoura, que termina em duas rodas, também de madeira.

Tem a cor castanha escura conseguida após várias demãos de viochene.

Habitualmente está encostado à parede, entre o pilar da estante dos livros e uma arca antiga, também de madeira; serve como elemento decorativo.

Mas há vezes, quando um miúdo aparece, sai do seu lugar de repouso e é usado para cavalgadas imaginárias, com passos de trote no "picadeiro" frente à garagem, ou galopes pelo resto da quinta, mas que nunca podem ser longos porque o passo está limitado ao tamanho da perna do cavaleiro.

Comprei-o numa feira de artesanato, não me lembro onde, e comprei-o porque, quando o vi, vieram-me à memória períodos de infância em que me via, agarrado ao cabo de uma vassoura, a cavalgar pelos montes e vales do corredor de casa dos meus avós, brandindo uma espada de madeira a espadeirar imaginários inimigos numa batalha solitária, sem guerreiros e sem outros cavalos.

Fazem bem os recordares, os avivares da memória, o voltar à infância, à juventude, o retornar aos percursos da vida, e ver como crescemos, por onde andámos, aprender com a experiência passada, com os erros que cometemos. 
É que a vida para trás não é só saudade é, acima de tudo, experiência, é vivência, é aprendizado.

De vez em quando faz bem ir lá atrás, ao corredor da vida, e trazer para fora o que julgávamos esquecido e ajustá-lo nas ocasiões adequadas.

Por isso temos memória... e este cavalo de pau tem-me ajudado a ir, muitas vezes, ao fundo daquele corredor.


(DO AUTOR - CAVALO DE PAU)

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