... E, ali, sentada do outro lado da secretária, foi desenrolando o fio da sua vida.
Foi puxando o fio das agressões, o fio dos insultos, o fio da desconfiança, o fio da indiferença, o fio da incompreensão, o fio dos desgostos, o fio da solidão, o fio das ausências, o fio das traições, o fio das exigências, o fio do cerco à liberdade, à criatividade, à imaginação, quase aos sonhos...
Neste fio intenso da sua vida não foi capaz de encontrar um fio de amor, um fio de afectos, um fio de ternuras, um fio de cumplicidades, um fio de companheirismo, um fio de ajudas, um fio de entendimento...
E, à medida que ia desenrolando a vida, à medida que ia compartilhando os desgostos, à medida que se sabia escutada, à medida que, naquele momento, se sentia entendida e compreendida, à medida que ia ouvindo não ser a pessoa horrível que lhe diziam ser, à medida que se ia libertando da angústia e do quase silêncio a que era obrigada, ia-se sentindo mais tranquila e mais segura no rumo que já tinha determinado.
Altura de começar a voltar aos sonhos, ao calor e à vida às cores.
Foi por isso que, desta vez, não precisou de levar daquelas receitas electrónicas, frias e a preto e branco.
2 comentários:
E tantas vezes o ter alguém com quem falar, desabafar, faz tão bem. Melhor que qualquer remédio.
Beijo e bom fim de semana.
É tão raro, hoje, o tempo para o diálogo. E é tão constante a violência...
Beijos
Berta
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