sábado, 8 de outubro de 2011

PIRIPIRI

A sala era enorme, com as duas televisões, uma de cada lado, a debitarem um desses programas cor de rosa, num som alto, quase estridente.

As mesas, cobertas de toalha de papel e encostadas umas às outras, quase davam, àquela sala, um aspecto de cantina social, pronta a receber os operários de uma fábrica qualquer que existisse ali por perto.

Entraram na sala vazia e tiveram dificuldade em escolher mesa tal a quantidade de oferta. Olharam à procura de um local sossegado, o mais longe possível das imagens cor de rosa e, sobretudo, daquele som alto e castrador de conversas.

Ainda antes de se sentarem, naquela hesitação de escolha, o empregado de mesa tratou logo de anunciar que o prato do dia era arroz de tamboril.

Fazia tempo que não o comiam e, por isso, se decidiram pela sugestão.

Pediram uma sangria branca, com muito gelo, pois o calor daquele dia quase sufocava. E pediram, também, já que mais ninguém estava na sala, que baixasse o som daquelas televisões enormes.


Quase não deu tempo para iniciar uma boa conversa. Chegou, num tacho enorme, a cheirar bem, cheio de peixe, de ameijoas e gambas; o arroz mal se notava naquela confusão de cores, naquele mar vermelho apetitoso. Nunca iriam comer aquilo tudo... Acharam que deveriam ter pedido só uma dose! De certeza que chegava e ainda iria sobrar.

A cor vermelha do tomate imaginava sabores fortes. Estava saboroso, a saber a peixe fresco, o arroz na boa textura mas faltava, ali, o toque picante do piripiri.

Olhe que este é muito forte, disse o empregado. Não ponha mais do que três gotinhas!



E, à medida que iam comendo, à medida que o aroma se ia libertando e o sabor acentuando, o piripiri ia-se adicionado às três gotas de cada vez, conforme a recomendação, mas muitas vezes. 

Rapou-se o fundo ao tacho, quase a pedir mais. Mas não! Bastou! 




A sobremesa doce, de uma  bem amarela encharcada, não foi suficiente para afastar os sabores fortes daquele arroz e a bica, no final, apenas espevitou a dormência que se estava a querer instalar.





2 comentários:

Anónimo disse...

Hummm! Devia ter dito onde se come esse petisco, eu adoro arroz de tamboril e, coisas minhas, três gotas de piripiri são imprescindíveis. Será pela magia do três?

Beijos e bom apetite
Berta

Anónimo disse...

...A fome,é "negra"na falta duma malagueta,até as três gotas vão bem...ahahahahahha
Beijo