segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O EXTRATO

Chegou-lhe, sem o "c" que antigamente continha.

Era a única diferença, a ortográfica.

De resto, tudo vinha igual. O dia e a hora do que tinha comprado, por onde tinha passado com a via verde, os pagamentos feitos por débito direto (também sem o "c"), as vezes que tinha levantado dinheiro no multibanco...

Não faltava nada. A conta, claro, estava certa até ao cêntimo. O deve e o haver corretos (de novo sem o "c") e o saldo, esse, como sempre, negativo.

Não tinha maneira de lhe dar a volta. Por mais que imaginasse em modos de poupar, por mais que desejasse ganhar o totoloto, por mais que menos comprasse, lá estavam as despesas do costume, as da água, as do gás, as da eletricidade (mais uma vez sem "c"), as do supermercado, as da renda da casa...

Ainda bem que os extratos não descriminavam tudo... É que se lá estivessem transcritos os desejos, os sonhos, os apetites de compra, então o extrato afundava-se de tal maneira que entrava em falência técnica (por enquanto ainda com o "c").



1 comentário:

Anónimo disse...

Pior que a falência técnica, com "c" é quando a falência ataca as emoções e as existências.
Beijos
Berta