quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O APERTO

Entrou com ar preocupado no gabinete. Com um olhar meio cerrado por rugas carregadas, com uma mímica a apontar para o chão, com uma voz a sumir-se dentro de si própria, com as mãos inquietas a percorrerem o colo, como a localizarem o mal, a indicarem o motivo...

Ultimamente andava assim: triste, ansiosa, preocupada, cheia de angústias, com sensação de dor indefinida no peito, uma dor ou um peso que lhe apetecia arrancar com as mãos, tirar do peito.

Tinha quase a certeza que se arrancasse aquela angústia, se removesse aquela impressão, se desatasse aquele aperto iria ficar melhor, mais aliviada...

Mas sabia que não ia ser fácil, porque sabia que a causa era, dizia, da vida que tinha, das dificuldades do dia a dia, das preocupações do amanhã, da crise que se adivinhava, do aperto forte  que está para vir.

Desta vez enganou-se, a dor era séria, o aperto verdadeiro, a angústia real: entrou de urgência nos cuidados intensivos, fez o cateterismo, colocaram-lhe um "by-pass" e dois "stents" e safou-se do enfarte extenso do miocárdio que quase a ia matando.

Tinha entrado, à hora certa, no gabinete...


2 comentários:

Anónimo disse...

Há horas de sorte. Infelizmente, são poucas... Também hei-de ir à consulta, também tenho um aperto!

Beijos
Berta

Anónimo disse...

Muito bom!
Beijinhos, lola