Entrou com ar preocupado no gabinete. Com um olhar meio cerrado por rugas carregadas, com uma mímica a apontar para o chão, com uma voz a sumir-se dentro de si própria, com as mãos inquietas a percorrerem o colo, como a localizarem o mal, a indicarem o motivo...
Ultimamente andava assim: triste, ansiosa, preocupada, cheia de angústias, com sensação de dor indefinida no peito, uma dor ou um peso que lhe apetecia arrancar com as mãos, tirar do peito.
Tinha quase a certeza que se arrancasse aquela angústia, se removesse aquela impressão, se desatasse aquele aperto iria ficar melhor, mais aliviada...
Mas sabia que não ia ser fácil, porque sabia que a causa era, dizia, da vida que tinha, das dificuldades do dia a dia, das preocupações do amanhã, da crise que se adivinhava, do aperto forte que está para vir.
Desta vez enganou-se, a dor era séria, o aperto verdadeiro, a angústia real: entrou de urgência nos cuidados intensivos, fez o cateterismo, colocaram-lhe um "by-pass" e dois "stents" e safou-se do enfarte extenso do miocárdio que quase a ia matando.
Tinha entrado, à hora certa, no gabinete...
2 comentários:
Há horas de sorte. Infelizmente, são poucas... Também hei-de ir à consulta, também tenho um aperto!
Beijos
Berta
Muito bom!
Beijinhos, lola
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