domingo, 16 de outubro de 2011

LENÇOS DE PAPEL

Gastou um pacote naquele pedaço de tempo.

Entre o choro e o nariz a escorrer quase não havia intervalo.

Um choro a parecer chuva grossa, com os olhos bem vermelhos, e um escorrer de nariz, como cascata, numa misturada de espirros e fungadelas, e os lenços eram uns atrás dos outros...

Tinha dias...

Ora se sentia bem disposta e a sorrir para a vida, como se nada fosse, ora acordava assim, chorosa, espirrenta e a correr do nariz.

De cada vez que isto acontecia, tomava o comprimido, aplicava o inalador do nariz e, ao fim de um dia ou dois, tudo melhorava...

O pior era quando se esquecia de comprar os medicamentos, ou quando tinha pressa e saía a correr de casa sem ter tempo para nada e, depois, era a cena do costume.

Mas também tinha dias em que o choro e as fungadelas não desapareciam com os remédios, dias em que vinham de dentro da alma, quando o coração doía, quando a dor da vida sufocava...

Nessas alturas nada lhe parava os choros, nada acabava com as fungadelas restavam-lhe, apenas, os lenços de papel...


1 comentário:

Anónimo disse...

Chorar também lava a alma, dizem. Comigo não resulta! Choro, demais, e em vez de alma limpa só ganho dor de cabeça. Nem os lenços de papel me valem.

Beijos
Berta