quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

À ESPERA

A tarde estava quente, sem vento, a convidar a um passeio à beira-mar.

O destino não ficava distante e, àquela hora, o trânsito fluía com tranquilidade e sem pressas.

O parque estava vazio. Só o seu carro! De um lado, o pequeno porto de pesca artesanal, do outro, a praia, quase deserta... ao longe um casal passeava  na beira-mar, abraçados os dois.

Começou a descer os degraus do molhe do porto da pesca. Um barco a chegar, azul forte, com dois homens e cheio de peixe. O motor a gasóleo, num teco teco ronceiro e monótono, ia fazendo deslizar a embarcação naquela água lisa do mar que se esgotava ali.

A lentidão imposta pelo rotação do motor permitia aos homens irem escolhendo e separando o peixe pescado.

As gaivotas, reunidas em assembleia na rocha que emerge no meio da pequena enseada, aguardavam, impacientes, um pequeno peixe que fosse. Mas nada, até àquele momento, nem uma escama aqueles dois homens atiraram borda fora. Certamente eles não iam dar mão daquele peixe fresco que conseguiram apanhar nas redes e armadilhas que colocaram durante a noite, pensou ele.

(Açores - Ilha de São Miguel - Caloura - 2003)
E elas quietas, voltadas para o mesmo lado, olhando fixamente o azul forte, iam virando o pescoço a uma só vez, à medida que a lentidão do barco se ia aproximando do plano inclinado daquela praia de cimento.

De repente a quietude do grupo, a tranquilidade daquela imagem, quase enternecedora, agita-se, o quase silêncio daquele toque toque do motor é abafado por gritos agudos e fortes, com um bater de asas, um abrir de bicos e de agressões entre aquele grupo aparentemente civilizado de gaivotas. Reparou, então, que os homens tinham juntado, num balde, os peixes em mau estado e atiraram-nos para junto das gaivotas que, pelo que lhe parecia,  ali devem estar, todos os dias à espera, à mesma hora, no mesmo sítio, pela chegada dos barcos de pesca.

A luta pela comida transformou-se numa batalha louca, violenta, agressiva, gritada e imensamente agitada. 

Acabada a comida tudo voltou à mesma paz do início, à quietude consentânea com a tranquilidade daquele local.

Até chegar outro barco, pensou ele...

4 comentários:

Anónimo disse...

Mesmo com toda essa agitação súbita, é bom passear à beira-mar. Acalma. Como que afogaas angústias!

Anónimo disse...

Com ou sem gaivotas, a beira-mar é um local que convida a relaxar,a observar e a sentir os aromas que nos envolvem.Que agradável deve ser, viver todo o ano perto do mar.

Anónimo disse...

Esta foto é muito bonita!

ac

Anónimo disse...

O fotógrafo é de excelência...