quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

CHAPÉU DE CHUVA

Andava ansiosa para estreá-lo! Era um chapéu de chuva enorme para o seu tamanho, de um vermelho forte e uniforme, sem desenhos, riscos ou arabescos.

Só não havia chuva; o tempo nebuloso, encoberto, prometia água, mas nada. E ela, desesperada, queria tanto usá-lo, sentir e ouvir a chuva a bater forte, naquele pano cor de sangue, enquanto se passeava, seca, no meio de um chuveiro de água.

Parecia de propósito, mesmo! No dia, em que a meteorologia prometia chuva, com bátegas e vento,  este acordou cheio de sol, quente mesmo, a contrariar, em absoluto, as previsões pessimistas da véspera.

Mas ela estava determinada e não se deixou abater; vestiu aquele vestido azul, leve e simples, pegou no chapéu de chuva, abriu a porta de casa e pôs-se a caminho do campo de lilases amarelos que se estende, num plano inclinado ascendente, até ao sopé do monte que abriga a casa dos ventos.

                           (pintura de rua - Lilases - Praga - 2010)

E o sol a tornar-se intenso àquela hora do meio da manhã, a aquecer a terra, a avivar o amarelo dos lilases e ela, sentindo a cabeça abrasada pelo calor do sol,  abriu o chapéu  continuando o seu passeio descontraído pelo campo fora.

Do alto da varanda, aquele círculo vermelho que se ia afastando, parecia um sol de fim de tarde, bem vermelho, a esconder-se no horizonte amarelo daquele campo de lilases.


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